sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Uma observação dieselhead sobre o aumento do preço da carne bovina

Num primeiro momento, pode até parecer que não faz sentido analisar o recente aumento nos preços da carne bovina sob uma perspectiva relacionada à questão dos biocombustíveis e à estabilização biológica dos ciclos do carbono e do nitrogênio, mas é algo muito mais fácil de estabelecer uma relação do que inicialmente se poderia crer. Seja através da integração de diferentes cultivares à criação de animais para obtenção de proteína, seja por aproveitamento de alguns resíduos do manejo agropecuário na cadeia produtiva dos biocombustíveis, não faz tanto sentido uma caça às bruxas que tem sido fomentada por setores da mídia e grupelhos que se apresentam como "movimentos sociais" com o único objetivo de tentar direcionar uma revolta contra o governo do nosso presidente Jair Bolsonaro. A situação tomou proporções tão bizarras que até a turma do veganismo já quer dar pitaco sobre o preço da carne bovina ao invés de continuar simplesmente tentando ganhar adeptos com aqueles ataques usuais ao consumo de produtos de origem animal.


De fato, o maior custo da carne bovina é um inconveniente para a população brasileira, mas é importante que se considerem tanto os aspectos econômicos como a necessidade de se proporcionar uma justa remuneração ao produtor rural e a recente abertura de mais espaço em mercados internacionais às exportações brasileiras de proteína animal quanto fatores culturais que influenciam em diferentes graus de aceitação do público em geral à carne de outros rebanhos ou até de caça. Não deixa de ser curioso que fora do Nordeste a carne de bode não seja muito comum, tendo em vista que a rusticidade é favorável ao manejo de caprinos mesmo em condições ambientais menos adequadas ao gado bovino, e também que o leite de cabra não seja tão incomum em outras regiões do país, além de cruzamentos entre machos de raças de corte com fêmeas de raças leiteiras darem origem ao "cabrito precoce" que atinge o ponto de abate mais cedo. Outra proteína animal que não é tão popular no Brasil mas encontra maior aceitação especialmente na região amazônica é o pato, cuja preparação mais tradicional por lá é o conhecido pato no tucupi. Talvez por aquela rejeição que se desencadeia a algumas tradições regionais à medida que outras carnes sejam tratadas como mais prestigiosas, mas também pela maior escala de produção do frango e do peru a nível nacional concorrendo com o "pato regional", já chegaram até a veicular peças publicitárias em Belém promovendo o "peru Sadia no tucupi" como uma iguaria a ser apreciada nas festividades do Círio de Nazaré...

Melhorias na qualidade da carne brasileira, principalmente no tocante à higiene e boas práticas de manejo nos frigoríficos aptos a exportar de acordo com auditorias externas promovidas por representantes dos países compradores, não deixam de ser favorável também ao consumidor brasileiro que tem à disposição um produto melhor. Também é importante considerar que anos anteriores à chegada do atual presidente Bolsonaro ao governo foram menos promissores, tanto em função da formação de um oligopólio no setor frigorífico com o crescimento anormal de um grupo empresarial que se envolveu nos escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava-Jato quanto pela fusão da Sadia com a Perdigão. A perda de poder de negociação levou pecuaristas ao desespero de destinar até matrizes para o abate, ao contrário do que se costuma ver no modelo de produção integrada predominante na criação de aves. Vale destacar também que o período entre o fornecimento de pintos de 1 dia para as granjas integradas e o ponto de abate dos frangos é muito menor em comparação ao que ocorre com o gado bovino, e até mesmo uma criação de frango caipira de fundo de quintal já tem uma taxa de conversão de matéria orgânica em proteína maior num prazo mais curto.

Além da escala de produção e do ciclo mais curto de engorda do frango, vale destacar a presença em mercados de exportação mais consolidada que a da carne bovina nacional nas últimas décadas, bem como uma maior facilidade para ajustar a produção a alguma alteração na demanda. Desde os primeiros surtos da gripe aviária no exterior servindo como uma oportunidade para promover o frango brasileiro em mercados externos até a imagem de uma carne mais saudável que se consolidou também no mercado interno, não dá para negar que a demanda externa pelas carnes bovina e suína especialmente na China afetada pela peste suína africana pode se refletir no preço do frango ao menos num primeiro momento até que o mercado interno volte a uma certa estabilidade. Em outras ocasiões já aconteceu algo semelhante, como quando no início de 2009 aumentou o consumo de linguiça de frango na mesma proporção que se diminuiu a demanda por picanha no Rio Grande do Sul devido à eclosão da crise da "bolha imobiliária" dos Estados Unidos. E mesmo com as exportações brasileiras de carne de aves tendo um grande volume, há uma relativa estabilidade que remonta à época que o frango passou a ser promovido exatamente como uma opção econômica no início do Plano Real.

Assim como a carne de aves domesticadas pode ser vista como "inferior" ou "nobre" dependendo do contexto, vale mencionar a caça. Prática ainda tradicional ao menos no Rio Grande do Sul, onde é mais valorizada e regulamentada, em outras regiões do país é expressamente proibida, mas acaba sendo tolerada por ser às vezes a principal fonte de proteína animal em algumas localidades mais pobres e/ou longe de grandes centros. Além de eventuais tabus associados à caça como algo "selvagem" ou ato de desespero, como no sertão nordestino onde durante a seca até lagarto (ou "calango" como se diz por lá) vai para a mistura, não é possível ignorar o risco de transmissão de algumas doenças que encontram como hospedeiros alguns animais silvestres, por exemplo o tatu apontado como vetor de proliferação da hanseníase/lepra no interior do Pará e da micose pulmonar no Piauí. Outras caças como a paca e até o ratão do banhado são seguras, enfrentando menos resistências de cunho cultural, já sendo possível encontrar em açougues especializados algumas carnes "exóticas" obtidas de animais criados em cativeiro. A bem da verdade, em algumas regiões menos destacadas na pecuária, até me causa alguma surpresa que se ignore o potencial de carnes nativas para suprir ao menos em parte os mercados locais e levar a uma maior estabilidade dos custos ao consumidor final.

Outra criação que não apenas proporciona uma conversão mais intensa de matéria orgânica em proteína, apresentado ainda uma boa alternativa para repor nitrogênio exaurido por alguns cultivares alimentícios, algumas espécies de peixe são facilmente integradas ao cultivo de arroz e hortaliças, reduzindo também a necessidade de usar fertilizantes químicos. Merece destaque a tilápia, espécie exótica que se encontra não apenas criada em cativeiro mas também já assilvestrada em alguns cursos d'água, e cujo sabor suave da carne branca facilita a aceitação por uma parte do público que não aprecia peixes com um sabor mais intenso. Vale destacar também que a pele de tilápia vem sendo testada com algum sucesso no tratamento de queimaduras, reduzindo a incidência de infecções hospitalares e até a necessidade de amputações em alguns casos. Outro aspecto digno de nota é o fato da gordura corporal dos peixes brancos ser mais concentrada no fígado, o que facilita a extração do óleo tanto na tilápia quanto em outras espécies para um eventual uso como matéria-prima na produção de biodiesel. Se formos observar que nos últimos 10 anos já se encontra tilápia até em regiões onde há uma preferência mais consolidada pelos peixes marinhos, como em Florianópolis onde a espécie já é oferecida até mesmo no Mercado Público Municipal, não deixa de ser no mínimo curioso que pouco se venha fazendo uma menção a essa alternativa que tem apresentado um preço competitivo diante da carne bovina.

É importante considerar também a questão da logística, que interfere de forma significativa nos custos ao consumidor final tanto para a carne bovina quanto qualquer outro produto. Rebanhos criados em regime de confinamento acabam proporcionando uma maior facilidade para um manejo de dejetos que sirva tanto para a produção de fertilizante agrícola quanto de biometano, que pode ser útil para reduzir a demanda do setor agropecuário pelo óleo diesel e ao mesmo tempo fomente a auto-suficiência energética do produtor rural. O biometano acaba tendo uma maior facilidade para ser implementado em criações de suínos e aves exatamente em função dos animais serem criados em espaços mais restritos, bem como de gado leiteiro, mas não é inviável ser associado também à criação intensiva de bovinos de corte. Vale destacar também que o uso do grão de destilaria que sobra da produção de etanol de milho proporciona um ganho de peso mais rápido ao gado de corte, o que já deveria ser um bom motivo para desmistificar o uso do milho ao menos como uma opção de matéria-prima para o etanol durante a entressafra da cana, e não se deve ignorar que esse combustível tão estigmatizado como se fosse "inferior" à gasolina também pode ser relevante num contexto de integração entre diferentes opções de fontes de energia renovável que possam proporcionar uma redução de custos operacionais ao setor ruralista e permitam que se mantenha uma remuneração justa mesmo com preços mais acessíveis ao consumidor final.

Desde fatores operacionais até oscilações na oferta e demanda, o preço da carne bovina está sujeito a uma série de tópicos que vão além de politicagens e da oposição irresponsável que tem sido feita não apenas contra o presidente Jair Bolsonaro mas sim contra a população que se vê bombardeada por um alarmismo que omite alternativas mais favoráveis à segurança alimentar. O apego desenfreado ao poder por parte de alguns grupos políticos, atacando de forma covarde e irresponsável o atual governo, foi um dos precedentes da desconfiança de mercados internacionais com relação à carne brasileira, e naturalmente que os esforços para recuperar essa confiança são mais lentos que um ataque terrorista do MST a fazendas onde matam gado só para dar prejuízo sem nem comer a carne ou usar o couro. Enfim, o atual momento está longe de ser a tragédia que alguns tentam apresentar, e no fim das contas pode se reverter em outras oportunidades de negócio.

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