sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Comparação improvável: Toyota Bandeirante e Gurgel X-12

Um modelo que teve absoluta hegemonia entre os utilitários no Brasil, em grande parte por ter sido por algum tempo o único 4X4 de produção em larga escala no país com motorização Diesel desde '62 numa época em que a Toyota recorria ao outsourcing de motores junto à Mercedes-Benz e só vindo a ter uma concorrência mais séria a partir da década de '90 com a chegada de utilitários importados modernos e já tendo passado a usar o motor Toyota 14B de procedência japonesa  montado em CKD pela MWM, o Toyota Bandeirante tem uma concepção bastante tradicional. Sempre equipado com motores acima de 3.0L de cilindrada, desde o motor Mercedes-Benz OM-324 com 3.4L até o 14B de 3.7L que era tido como um motor de alta rotação, teve também os motores OM-314 de 3.8L e OM-364 com 4.0L durante o ciclo de produção que se encerrou em 2001. Com médias de consumo entre 9 e 12km/l na versão jipe com teto de aço tanto para o OM-364 quanto para o 14B, não se pode negar que apesar de ser bastante pesado e sem uma aerodinâmica tão notável permanece uma plataforma interessante para experiências tanto pela durabilidade na configuração original quanto pela possibilidade de fazer adaptações que é favorecida pela configuração de chassi separado da carroceria.
No tocante às dimensões externas, o comprimento de 3,93m e a distância entre-eixos de 2,285m já são favoráveis tanto a incursões off-road mais pesadas quanto para os deslocamentos urbanos, em que pese a rusticidade que acaba se sobrepondo a um eventual conforto que dependeria da adaptação de alguns acessórios ou de modificações relativamente complexas principalmente no tocante à suspensão que com eixo rígido e feixes de molas tanto na frente quanto atrás não faz milagres. Aí já começam os contrastes com o Gurgel X-12, cuja carroceria monobloco feita em plástico reforçado com fibra de vidro e tubos de aço de seção quadrada (técnica denominada "plasteel" por João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, fundador da Gurgel e responsável pelo projeto) tem 3,31m de comprimento e uma distância entre-eixos de 2,04m que a princípio seriam suficientes para favorecer ainda mais a agilidade em espaços exíguos, além de manter a suspensão independente nas 4 rodas proveniente da Volkswagen que fornecia todo o conjunto mecânico derivado do Fusca incluindo o motor traseiro e a tração simples que acabou sendo um impedimento à disponibilização de motores Diesel no X-12. A diferença de apenas 15mm entre a largura de 1,665m do Bandeirante e 1,65m do X-12 pode parecer irrelevante num primeiro momento, assim como a diferença de 42,8cm na altura total de 1,998m do Toyota e de 1,56m do Gurgel, embora a inclinação dos parabrisas e os paralamas dianteiros mais integrados à carroceria tendessem a favorecer a aerodinâmica no modelo mais compacto.
Já observando no tocante à mecânica, embora a tração somente traseira pudesse parecer mais favorável à eficiência geral devido ao peso menor, não convém esperar milagres com o motor Volkswagen boxer refrigerado a ar de 1.6L tanto para versões movidas a gasolina quanto nas raras movidas a etanol que foram mais destinadas a repartições públicas devido a discordâncias do engenheiro Amaral Gurgel com relação ao ProÁlcool. E mesmo pesando menos da metade de um Bandeirante, o X-12 a gasolina tem as médias de consumo de combustível apontadas entre 9 e 11km/l que dão a entender uma superioridade de motores Diesel em geral. Guardadas as devidas proporções, não apenas pelo tamanho pelos sistemas de tração ou a discrepância entre as faixas de cilindrada e regimes de rotação, não seria de se duvidar que eventualmente um motor Diesel compacto e de alta rotação como a versão do EA-827 que chegou a ser produzida no Brasil mesmo poderia até levar a um acirramento na disputa com as versões de chassi curto do Toyota Bandeirante de forma análoga a como a ascensão da Gurgel de fabricante de buggies à produção de modelos que hoje seriam provavelmente classificados como um SUV crossover devido ao uso de elementos mecânicos de um automóvel generalista acabou induzindo a Ford a descontinuar o Jeep CJ-5 no Brasil.

Um comentário:

  1. Não dá para esperar milagre quanto à aerodinâmica mesmo, mas o Gurgel até que é interessante.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html