sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

4 motivos para ter sido um equívoco a Isuzu encerrar o ciclo de desenvolvimento do motor 4JB1

Um motor que teve uma boa fama em mercados internacionais, mas que é pouco conhecido no Brasil, o Isuzu 4JB1 ainda tem uma disponibilidade limitada a países periféricos com normas de emissões menos estritas. Com a cilindrada de 2771cc e uma concepção rústica, mantendo o comando de válvulas no bloco e sincronização por engrenagens, poderia parecer menos competitivo à medida que avançavam não só as normas ambientais mas também a preferência de consumidores generalistas por calibrações de potência e torque aptas a rivalizar com os motores V6 a gasolina que normalmente se oferecia como opção mais prestigiosa nas pick-ups e SUVs de porte médio, ainda que tivesse surgido o 4JB1-TC já dispondo de turbo e resfriador de ar (intercooler). E apesar do enfoque maior na utilidade que a própria Isuzu recorre no âmbito do marketing, valendo-se da reputação como fabricante de caminhões mas que acaba sendo estendida à linha de pick-ups e SUVs, acabou por deixar passar uma série de oportunidades para levar adiante o desenvolvimento do motor 4JB1 que ainda poderia estar posicionado confortavelmente até em alguns mercados mais exigentes, e ao menos 4 bons motivos levam a crer que tenha sido um equívoco a Isuzu dar por encerrado o ciclo de novos desenvolvimentos para esse motor:

1 - familiaridade de profissionais de assistência técnica: característica que se torna crítica em regiões onde a infraestrutura é mais precária, como ainda é o caso de partes da América Latina, África e algumas partes da Ásia, e até do Oriente Médio onde além do custo inicial menor de um veículo com motor a gasolina a influência político-religiosa dos sheiks do petróleo de certa forma constitui outro empecilho para a difusão de motores Diesel de concepção mais moderna no segmento de utilitários leves. Portanto, considerando menos provável que eventuais mecânicos "de trator" mais fáceis de encontrar em algumas regiões consigam num primeiro momento justificar o investimento em aperfeiçoamento e atualização, ou na aquisição de algumas ferramentas necessárias para prestar serviço em motores mais sofisticados, não seria de todo improvável que um motor mais simples e para o qual a assistência técnica independente teria melhores oportunidades de estar suficientemente familiarizada fosse atender mais confortavelmente aos operadores;

2 - logística de reposição de peças e eventuais readequações de maquinário de produção: sob um ponto de vista operacional, a princípio um compartilhamento de muitos componentes entre versões mais antigas e outras com algumas atualizações não acarretaria grandes dificuldades para manter uma logística de reposição de peças eficiente. E a não ser que se partisse para alterações mais radicais em versões renovadas partindo do mesmo projeto básico que originou o 4JB1, também não haveria uma necessidade de readequar o ferramental das fábricas como para produzir versões com o comando de válvulas no cabeçote e sincronização por correia dentada a exemplo do que ocorre em alguns motores chineses mais recentes que ainda contam com muita "inspiração" dos Isuzu 4JA1 de 2.5L e do 4JB1;

3 - viabilidade para incorporar dispositivos de controle de emissões mais recentes: tomando as cópias chinesas mais semelhantes ao original como referência, o fato de algumas já incorporarem tanto o filtro de material particulado (DPF) quanto o SCR de modo a enquadrarem-se em normas de emissões equivalentes à Euro-6 já faz com que pareça menos "obsoleto" do que se poderia imaginar, em que pese já terem até recebido o gerenciamento eletrônico e a injeção do tipo common-rail. A princípio o fato de ter só duas válvulas por cilindro pode levar a crer que os fluxos de admissão e escape ficariam deficitários demais para usar uma diluição mais alta de recirculação de gases de escape através do EGR para minimizar a dosagem de AdBlue/ARLA-32/ARNOx-32 que seria aplicada ao SCR, mas também não há impedimentos para um motor OHV com sincronização por engrenagens incorporar 4 válvulas por cilindro como é relativamente comum em alguns motores modernos utilizados em caminhões, e que seria mais fácil do que tentar adaptar o projeto original do 4JB1 para receber comando de válvulas no cabeçote mantendo a sincronização por engrenagens como nos motores Isuzu da série H usados em alguns modelos da linha de caminhões;

4 - competitividade contra motores destinados a mercados emergentes: destacando o caso do motor Cummins ISF2.8 na mesma faixa de cilindrada e que foi desenvolvido exatamente para competir contra as incontáveis cópias chinesas do 4JB1 tanto no mercado de caminhões leves quanto para as pick-ups e SUVs com uma pretensão mais sofisticada e também para furgões e microônibus que até poderiam se manter competitivos com um motor mais simples, a princípio um fator que tenderia a favorecer a Isuzu é dispensar a corrente sincronizadora da qual o ISF2.8 lança mão e que já foi alvo de críticas em alguns mercados de exportação. Já dizia Amaral Gurgel que "peça que não entra não quebra", e portanto seria mais fácil fisgar aquele consumidor mais tradicional que não se convence pelo motor que a Cummins desenvolveu inicialmente para ser fabricado na China numa joint-venture com a Foton. Até não posso negar que, apesar do ISF2.8 apresentar desempenho comparável ao proporcionado pelo motor Toyota 1KD-FTV de 3.0L que foi usado na geração anterior da Hilux, de certa forma me surpreendeu por não ter seguido a mesma estratégia que norteou o ISF3.8 também desenvolvido em função da China mas que é dotado de comando de válvulas no bloco com a sincronização por engrenagens. Também seria possível mencionar o caso de alguns motores chineses que não deixam de ser uma "releitura" do projeto do 4JB1, incluindo alguns que ao incorporar o comando de válvulas no cabeçote e sincronização por correia dentada costumam ser confundidos com motores Toyota por alguns paraguaios, e antes de ser deflagrada a crise do coronavírus causada pelo bioterrorismo chinês parecia haver uma perspectiva para fabricantes chineses consolidarem uma presença mundial que atualmente parece mais próxima de ser recuperada por empresas mais tradicionais como a Isuzu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html