quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Uma observação sobre o Porsche Cayenne de 3ª geração e aspectos políticos por trás da hibridização em veículos de luxo

Em meio a tanto cerceamento de liberdades individuais e à infundada demonização que vem sendo feita com relação aos motores de combustão interna de um modo geral, além da mediocridade de burocratas que insistem em relacionar pura e simplesmente a cilindrada ao impacto ambiental de um veículo, cabe destacar o caso de modelos como o Porsche Cayenne de 3ª geração que já não oferece nenhuma opção de motor turbodiesel como as predecessoras e o destaque que agora se dá às versões híbridas plug-in. A simples presença de um sistema de tração elétrica auxiliar, que confere alguns benefícios como acesso a vagas de estacionamento reservadas em alguns estabelecimentos comerciais também fazendo as vezes de eletroposto para a recarga das baterias, também tornou-se de certa forma uma indulgência em países onde um motor de cilindrada relativamente alta é sobretaxado. No caso específico do Brasil, homologar um veículo como "utilitário" mesmo que na prática não vá ser usado em serviço pesado já proporciona a modelos não-híbridos o enquadramento numa alíquota de IPI sem distinção por cilindrada, acima dos "populares" com motor até 1.0L mas ainda abaixo das que são aplicáveis em outros automóveis, mas a presença de um sistema híbrido proporciona uma redução na alíquota de imposto de importação e ainda conta com a diminuição do IPVA em alguns estados e já garante a isenção do rodízio municipal em São Paulo.

Outro aspecto a salientar é o uso de motores a gasolina absolutamente idênticos entre versões híbridas e não-híbridas, que pode soar especialmente justificável à medida que as novas gerações dos motores de combustão interna norteados pelo conceito de downsizing alcançam patamares outrora inimagináveis de eficiência lançando mão do turbocompressor e também da injeção direta mesmo nos motores de ignição por faísca, embora também passem a incorporar o filtro de material particulado anteriormente que já foi um calcanhar de Aquiles mais específico dos turbodiesel mas que no rescaldo do escândalo Dieselgate protagonizado pela Volkswagen ficou indispensável até para alguns motores a gasolina exatamente em função de como a vaporização do combustível imediatamente antes da deflagração do centelhamento da ignição ocorre num intervalo excessivamente curto com a injeção direta. O método pelo qual o motor elétrico está integrado ao sistema de propulsão, por meio de acoplamento eletromagnético e instalado entre o motor a gasolina e o câmbio automático ZF de 8 marchas na mesma posição do conversor de torque hidráulico das versões não-híbridas, também leva a crer que existam motivos alheios à pauta "ecológica" que se observa em outros veículos com diferenças mais substanciais tanto a nível de motor quanto de câmbio (ou ausência dele) à medida que seja aplicada a hibridização. Como o motor elétrico está acoplado, a potência e o torque combinados aos do motor a gasolina podem alcançar patamares mais altos e eliminar o deslizamento (a famosa "patinada") em acelerações que se observaria caso fosse não-híbrido e recorresse ao conversor de torque hidráulico, algo mais de acordo com uma proposta de esportividade que norteia a linha Porsche mas que poderia muito bem ser aplicado também a modelos com motorização turbodiesel.

A forma como o motor elétrico fornece potência e torque auxiliares poderia levar a crer na viabilidade de se levar adiante um downsizing mais radical no tocante ao motor a gasolina, sem no entanto causar um comprometimento do desempenho vigoroso que o tanto motiva público-alvo do Porsche Cayenne a optar por um veículo dessa categoria, mas novamente cabe destacar a intenção de enquadrar o modelo a uma carga tributária menos punitiva em proporção à cilindrada e/ou às emissões no ciclo de condução urbano. E apesar da incidência de impostos menor em comparação a um similar não-híbrido, também é conveniente recordar que a presença de um conjunto motopropulsor híbrido ainda tem um custo alto até certo ponto comparável ao que seria observado caso ainda houvesse a opção por um motor turbodiesel para atender especificamente à pretensão por uma melhor economia de combustível mesmo às custas de um desempenho não tão glorioso, além do peso agregado e o volume ocupado pela bateria tracionária também poderem ser apresentados como contraponto às alegações de que haveria maiores dificuldades para a integração do sistema SCR que seria aplicável a uma versão turbodiesel para atender aos limites de emissões especificados pela norma Euro 6d-TEMP-EVAP-ISC na qual a atual geração do Porsche é homologada. Portanto, não deixa de ser pertinente apontar como eventuais favorecimentos num âmbito mais político que técnico acabam sendo apresentados ao público generalista como um pretexto para que a opção por um bom turbodiesel seja abandonada por fabricantes e tratada desproporcionalmente como uma ameaça à "sustentabilidade" e outros jargões usados por falsos ecologistas no intuito de cercear a liberdade de escolha, e naturalmente um Porsche traz alguma visibilidade a essas pautas aos olhos do público generalista.

Eventualmente algum medíocre de plantão que não tem nada melhor para fazer sinta-se tentado a fazer discursos exaltando uma falsa humildade e apontar uma suposta "inveja" em observações sobre a forma que a hibridização tem sido mais difundida no Brasil em modelos de alto valor agregado, ou insistir nas mesmas alegações que fomentam uma histeria falsamente ecológica que visa tão somente inviabilizar a continuidade do motor de combustão interna no mercado automobilístico. Mesmo que sistemas híbridos possam ser perfeitamente integrados a motores operando nos mais diferentes ciclos termodinâmicos, o viés político na preferência que se dá a um suposto antagonismo especificamente entre a tração auxiliar elétrica e os turbodiesel acaba valendo-se de fatores que já eram mais subjetivos como uma imagem dos motores a gasolina sendo inerentemente mais esportivos num contraste com a natureza essencialmente utilitária que remonta aos primórdios da "dieselização" para impor a idéia de que públicos diferenciados possam conciliar expectativas de desempenho ou eficiência em torno de uma única abordagem técnica. Enfim, por mais que alguns consumidores possam ser bem atendidos pela hibridização, e considerar a possibilidade da injeção direta favorecer a transição para combustíveis renováveis como o etanol sem levar em consideração o biodiesel para quem prefira um motor turbodiesel, a politização que se deu aos sistemas de tração auxiliar elétrica ganha contornos indesejáveis com a expectativa criada em torno dos híbridos a gasolina como a única solução para quem não abra mão do motor de combustão interna.

Um comentário:

  1. Até acho justificável que se tenha menos imposto para um carro híbrido mesmo se for de alto luxo, já que um consumo e uma emissão menores são benéficos. Faz bem mais sentido que premiar a poluição.

    ResponderExcluir

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html