sexta-feira, 5 de março de 2021

Ainda faria sentido um V8 a gasolina numa pick-up full-size?

Uma categoria para a qual praticamente não se vê contestações à hegemonia dos motores turbodiesel ao menos em mercados de exportação, as pick-ups full-size de concepção essencialmente americana como a Ram 2500 se destacam pelo tamanho e também pela aptidão ao serviço pesado. No caso específico da Ram, o motor Cummins atualmente oferecido numa configuração de 6.7L e 6 cilindros em linha equipa aproximadamente 75% dos modelos 2500 e 3500, o que também inclui o mercado americano onde está a maior demanda. Naturalmente, considerando a predominância do uso particular/recreativo que hoje é o mais comum no Brasil para veículos dessa categoria, até podia ser tentador aos olhos de uma parte do público tradicional um V8 a gasolina como o HEMI de 6.4L que segue disponível nos Estados Unidos, México e Canadá, mas a própria aura formada em torno de motores turbodiesel como materialização da força bruta é tão relevante quanto o consumo de combustível menos exagerado que similares a gasolina nas mesmas condições operacionais.

Gerações anteriores da Ram ainda chegaram a contar com a opção por motores V10 a gasolina de 8.0L efetivamente destinados a aplicações utilitárias na linha heavy-duty, e posteriormente outro de 8.3L que havia sido originalmente desenvolvido para o Dodge Viper mas também acabou encontrando espaço em algumas versões de proposta mais esportiva da série 1500 num momento em que os modelos maiores já haviam consolidado a preferência pelo turbodiesel Cummins então com 5.9L (popularmente conhecido como "6BT") nas aplicações severas imediatamente acima dos V8 a gasolina. Apesar da homologação em alguns países como caminhão em função do peso bruto total superior a 3500kg mantê-la enquadrada em alíquotas de impostos menos absurdas em proporção à cilindrada do que se observa nos automóveis, e no Brasil resultar na necessidade de carteira de habilitação categoria C para conduzir uma Ram 2500, a opulência frequentemente atribuída aos motores V8 estereotipicamente americanos e por extensão aos V10 hoje enfrenta uma oposição de peso tanto no tocante à racionalidade de um turbodiesel quanto pela melhoria no desempenho ao longo das duas últimas décadas. Motores a gasolina com alta cilindrada até podem parecer razoáveis aos olhos de alguns entusiastas das pick-ups full-size, tanto por dispensarem a complexidade de dispositivos como o SCR e o filtro de material particulado que ganharam espaço nos turbodiesel para atender às normas de emissões mais recentes quanto pela relativa facilidade que podem apresentar para serem adaptados ao uso de combustíveis alternativos como o etanol (apesar do consumo ainda mais exagerado) ou do gás natural, apesar do estigma especialmente em torno do gás como uma gambiarra que ainda comprometeria demasiadamente o desempenho.

Da aptidão ao serviço pesado na lida campeira à capacidade de carga e reboque proporcionando grande facilidade para transportar praticamente tudo o que for necessário para uma estadia confortável na praia durante o verão, as pick-ups full-size atualmente consideradas uma apoteose do American Way of Life mantém uma legião de admiradores mundo afora. Enquanto em alguns mercados de exportação o custo da gasolina pode até não assustar usuários com um perfil muito diferente dos americanos, em outros um V8 já nem faz tanto sentido, tanto pela consolidação da imagem de motores turbodiesel como sinônimo da brutalidade que se deseje externar com um veículo dessa categoria quanto pela falta de incentivos ao uso de combustíveis alternativos que se adaptem melhor à ignição por faísca. Enfim, por mais que seja impossível dissociar a cultura automobilística americana dos motores V8 de alta cilindrada sedentos por gasolina, não deixa de ser no mínimo curioso que uma das categorias de veículos mais frequentemente associadas à imagem de americanidade até destaque a superioridade de um turbodiesel com 6 cilindros.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

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