segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Breve reflexão sobre calhambeques e diferentes gerações de carros "populares" em contraste com utilitários

Diferentes graus de polivalência ou uma maior "especialização" podem ser exigidos de alguns veículos, e certamente as condições de cada época acabam influenciando nas estratégias de cada fabricante, como pode ser observado até numa comparação um tanto improvável à primeira vista entre o Ford Modelo T e a atual geração do Suzuki Jimny Sierra. Certamente há quem considere absurdo apontar semelhanças entre um carro generalista cujo projeto original já tem mais de 100 anos e um jipe que apesar de ter uma concepção bastante conservadora é efetivamente moderno, mas o simples fato de ambos recorrerem ao chassi separado da carroceria e eixos rígidos já é suficiente para fomentar reflexões em torno da infeliz persistência das restrições ao uso de óleo diesel como combustível em algumas categorias de veículos leves no Brasil. Muito embora uma grande evolução técnica no tocante a sistemas de freios e suspensão tenha ocorrido desde a época do "Ford Bigode", bem como o desenvolvimento da tecnologia da tração 4X4 que hoje até possibilitaria a eventual instalação de um motor turbodiesel no Jimny em substituição ao original a gasolina, o fato de um carro considerado generalista para a época que foi projetado mas até se assemelha mais a um trator agrícola a princípio ter proibida uma conversão para Diesel acaba tendo contornos curiosos diante de um utilitário moderno que preserve uma configuração técnica austera.

Já entre os carros "populares" atuais, para os quais tem prevalecido a estrutura monobloco com o motor dianteiro transversal e a tração dianteira em nome da economia e até de uma "manufaturabilidade" que remonta à época do Ford Modelo T, mesmo ao observarmos um modelo de projeto mais recente como o Renault Kwid, é conveniente destacar alguns aspectos eventualmente mais subjetivos como um mote de publicidade apresentando o hatch inicialmente destinado à Índia como "o SUV dos compactos" tão logo chegou ao mercado brasileiro. Tendo em vista que alguns SUVs mais recentes também incorporam uma configuração até bastante semelhante com monobloco associado a motor e tração dianteiros enquanto a tração 4X4 foi alçada a uma condição mais prestigiosa, a ponto de alguns operadores profissionais que ainda poderiam se beneficiar desse sistema em determinadas condições operacionais como prestadores de suporte técnico em telecomunicações e segurança eletrônica recorram a veículos de tração simples, a diferenciação entre um carro generalista e modelos contemporâneos que possam ser classificados como "utilitário" vai ficando mais tênue. Portanto, assim como já acaba sendo justificável fazer uma analogia entre os calhambeques e alguns jipes modernos que preservem uma configuração tradicional, é bastante claro que impor uma restrição ao uso de motores Diesel arbitrariamente contra determinadas categorias de veículos pode não ser necessariamente benéfico às aplicações estritamente utilitárias.

Considerando modelos que chegaram a ser contemporâneos no mercado brasileiro como o Jeep CJ-5 e o Fusca, e apesar da grande maioria dos exemplares do Jeep comercializados no país terem sido 4X4, as raras versões de tração somente traseira chegaram a custar menos que um Fusca e serem tecnicamente o mais próximo de um calhambeque ao longo do ciclo de produção. Mesmo que ambos tivessem o chassi separado da carroceria, uma diferenciação técnica mais expressiva se fazia presente, e os eixos rígidos do CJ-5 contrastavam com o uso de suspensão independente nas 4 rodas na antiga linha Volkswagen de motor e tração traseiros cuja própria configuração impossibilitaria usar o eixo de torção que predomina na suspensão traseira dos "populares" atuais de tração dianteira, na prática a concentração de peso entre os eixos mais à frente devido à posição do motor exige tração 4X4 para o Jeep transpor irregularidades de terreno que um Fusca vencia sem grandes dificuldades nas mais variadas condições de carga, apesar de apenas um deles ser reconhecido como "utilitário" para fins de homologação e autorização para uso de um motor Diesel. Enfim, algumas diferenciações técnicas podem ser substanciais a ponto de se levar a crer que a comparação entre carros "populares" e os utilitários tanto de cada época quanto de períodos distintos pareça injustificável, mas na prática evidenciam como pode ser imprecisa essa classificação.

Um comentário:

  1. No mínimo irônico um tipo de veículo rústico como o Jeep hoje dar nome a verdadeiros carros de luxo.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html