Um daqueles casos particularmente improváveis, mas que fomenta uma reflexão, é como um veículo de proposta originalmente austera a exemplo do Fusca foi alçado a uma condição de ícone cultural dentro e fora do Brasil, tendo originado diversas vertentes entre os entusiastas abrangendo até o estilo que viria a ser conhecido como HoodRide ou RatVolks. Com uma origem de certa forma análoga à dos hot-rods de concepção essencialmente americanizada, mas seguindo mais especificamente a estética dos rat-rods que dão uma ênfase à aparência de um desgaste acentuado, tornou-se relativamente fácil se deparar com algum Fusca ou outros modelos antigos da Volkswagen com motor e tração traseiros enquadrados nessa idéia que foi mais divulgada no Brasil à medida que a internet ganhava espaço e facilitava a difusão dos mais variados tipos de preparação ou personalização de automóveis. Naturalmente houve estranheza na época que o rat-look começou a ser mais visto no Brasil, a ponto de alguns veículos chegarem até a ser confundidos com carcaças abandonadas em vias públicas, mesmo estando em condições operacionais melhores que a sugerida pelo aspecto visual mais "largado".
A estética é um fator extremamente subjetivo, e dificilmente uma abordagem única tenderia a agradar a todos os grupos dentre os apreciadores de veículos antigos, valendo acrescentar alguns questionamentos também no tocante à própria continuidade do motor de combustão interna ameaçada mundo afora pelas mais baixas politicagens travestidas de "consciência ambiental" e eventualmente ignorando uma maior adaptabilidade que alguns veículos antigos possam ter para operar com combustíveis alternativos. Uma extensão da vida útil operacional de um carro antigo pode fazer sentido ao considerarmos todo o gasto de energia nem sempre "limpa" que seria destinada tanto ao beneficiamento de matérias-primas quanto às operações inerentes mais especificamente à produção de um veículo novo, mesmo considerando até a diferença entre regulamentações de emissões aplicáveis a cada período e também o inevitável consumo de peças de reposição. Até no tocante a motores, fica impossível assegurar que algumas "verdades" tão repetidas à exaustão pela mídia sejam realmente condizentes com a realidade, e no hipotético caso de se fazer necessária a substituição de um motor antigo por outro fora da especificação original nada impede que um motor Diesel proporcione um resultado satisfatório e já consiga se manter enquadrado a normas de emissões mais severas que as da época de fabricação do veículo original, embora uma adaptação de motor Diesel para o Fusca seja proibida no Brasil com base na soma entre a capacidade de carga abaixo de uma tonelada com acomodação para menos de 10 ocupantes e da tração somente traseira escapando à definição arbitrária quanto aos requisitos para homologar um veículo como "utilitário".
Além da já conhecida adaptabilidade para operar com gás natural e etanol, em que pesem as limitações da refrigeração a ar para a estabilização da marcha-lenta e da temperatura dos gases de escape que é um fator determinante para a eficiência tanto do motor quanto de sistemas de controle de emissões como o catalisador que esteve ausente do Fusca brasileiro ao longo do primeiro ciclo de produção do modelo, é relevante observar que mesmo o constante alarmismo midiático em torno da gasolina permanece longe de ser suficiente para inviabilizar o motor de combustão interna de um modo geral. Por mais que alguns adeptos da imagem "asséptica" e politicamente-correta de veículos elétricos ignorem diversas condições operacionais fora de uma bolha hi-tech e prefiram simplesmente demonizar a gasolina e o óleo diesel ao invés de apoiar a busca por soluções passíveis de uma implementação segura e até "sustentável", ver a sobrevida de um carro clássico em uso normal ainda fomenta uma reflexão quanto à maior coerência de se cogitar até a hipotética adaptação de motores "de trator" ao invés do imediatismo alarmista que já dá como certa uma extinção gradual do motor de combustão interna a partir de 2025. Até a antiguidade do Fusca contrastando com a quantidade de gadgets eletrônicos a bordo de veículos novos, e a presença da injeção eletrônica hoje indispensável tanto em motores de ignição por faísca quanto nos mais modernos turbodiesel, na prática mantiveram inalterada a relevância dos ciclos termodinâmicos Otto e Diesel.
Ficou com um aspecto curioso esse Fusca, se fosse preto daria para imaginar um punk saindo de dentro.
ResponderExcluirEssa menção a uma bolha hi-tech é bem verídica, só quem tem tudo de mão beijada a meia dúzia de toques na tela do celular e não precisa sair do conforto nem para buscar uns brioches em alguma confeitaria chique realmente acredita que carro elétrico vá salvar o mundo.
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