segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Breve observação sobre a desvirtuação do conceito de SUV e das características de utilitário

A minha geração cresceu influenciada pela reabertura do mercado aos automóveis importados, podendo atribuir à chegada de utilitários com um rodar mais suave que o dos jipões de concepção tradicional um maior apreço pelos SUVs junto a consumidores com um perfil mais urbano. Um modelo que acabou se tornando especialmente marcante nesse contexto foi o Suzuki Vitara de 1ª geração, rapidamente alçado à posição de um sonho de consumo da classe média-alta tanto em função do fascínio do mercado pelos importados de um modo geral quanto pelo fim do isolamento tecnológico que começava a ser delineado na frota brasileira. Por mais inegáveis que sejam algumas semelhanças entre um SUV raiz ainda dotado de chassi separado da carroceria e eixo traseiro rígido e os poucos 4X4 nacionais anteriores a '90, e até certo ponto comparáveis sem exageros também aos calhambeques, a "suvização" que viria a tomar uma proporção cada vez maior foi facilitada por um aproveitamento da escala de produção dos "caminhões leves" destinados aos Estados Unidos, que norteou a atuação de alguns fabricantes e importadores.

É inegável também a influência da primeira geração do Ford EcoSport, originalmente desenvolvida em função especificamente do Brasil e lançada em 2003 como um derivado do Fiesta "Amazon" produzido na Bahia, e portanto a maior similaridade técnica com um "popular" consideravelmente mais austero foi benéfica à fábrica de calhambeques quanto aos custos de produção. O maior prestígio que já se atribuía aos "utilitários-esportivos" frente a automóveis generalistas, ainda que uma proporção considerável dos principais componentes mecânicos e estruturais fosse rigorosamente a mesma, fazia a balança pesar por uma "suvização" cada vez mais agressiva, tomando até mesmo uma parte do público que anteriormente optaria por um automóvel de segmento imediatamente acima e uma configuração mais conservadora de carroceria. No caso específico do EcoSport, que teve uma participação mais expressiva das versões 4X2 nas vendas e chegou a oferecer posteriormente a opção por tração 4X4, convém destacar que o sistema ControlTrac II com acoplamento viscoso do diferencial traseiro sem uma caixa de transferência ou um diferencial central e a relação de marchas não foram suficientes para que fosse autorizado no Brasil o uso do motor Ford DLD-414/Peugeot DV4 turbodiesel de 1.4L e 68cv que chegou a equipar o modelo em mercados de exportação, e também foi aplicado ao Fiesta.

À medida que os SUVs tornaram-se cada vez mais relevantes a nível mundial, e que no Brasil continua em vigor uma restrição baseada em capacidades de carga e passageiros ou tração impedindo o uso dos mais modernos motores turbodiesel em automóveis, até pode parecer tentador num primeiro momento a "suvização" como uma brecha para ter essa liberdade de escolha. O enfoque cada vez maior ao público urbano, a ponto de modelos como o Mercedes-Benz GLB terem disponibilizadas no Brasil só versões de tração dianteira mesmo quando oferecem no exterior motores turbodiesel e tração nas 4 rodas com uma relação de marchas equivalente à presença da "reduzida" para fins de homologação como utilitário, leva a crer que o grande público está cada vez mais condicionado a aceitar passivamente a "suvização". Mas a bem da verdade, tendo em vista um distanciamento cada vez maior das premissas efetivamente utilitárias, uma adesão aos SUVs acaba perdendo sentido quando deixa de servir como um quebra-galho para quem prefira um tipo de motor mais que um tipo de carroceria.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html