terça-feira, 8 de março de 2022

Por quê ainda faria sentido uma moto eventualmente poder dispor de um motor Diesel?

Uma categoria de veículos muito peculiar, e para a qual pode soar mais improvável que motores Diesel viessem a constituir uma boa opção, as motos acabam sendo apreciadas pelas mais diversas razões, e a economia frequentemente atribuída a modelos de pequena cilindrada está entre as mais destacadas aos olhos do público generalista. Naturalmente a percepção de simplicidade associada a alguns motores de motocicleta, como o de 125cc "varetado" da Honda CG 125 cujas cópias chinesas seguem em uso numa infinidade de motos, bem como triciclos e quadriciclos geralmente com algum aumento de cilindrada e às vezes até o recurso à refrigeração líquida, poderia desencorajar a procura por algum motor Diesel de cilindrada mais alta visando manter um desempenho equivalente. Sem entrar no mérito de parâmetros como uma exigência de determinados equipamentos de segurança, ou ainda as categorias de habilitação escalonadas por faixas de cilindrada e potência em alguns países e regiões, o Diesel ainda pode ser útil.


O carburador ter permanecido comum em motos mais austeras como a Honda Pop 100 até por volta de 2017, mesmo que se acabasse exigindo um ajuste mais restritivo no tocante ao desempenho para manter o enquadramento às normas de emissões então vigentes, certamente contribui para perpetuar a imagem do motor de ignição por faísca como inerentemente mais simples, enquanto a lenta ascensão da injeção eletrônica hoje vem amparada por uma prévia desmistificação desse recurso em automóveis. Até seria o caso de apontar uma imagem de motores Diesel no Brasil como algo mais "especializado", em parte por conta das restrições ao uso em automóveis e alguns utilitários leves tendo afastado o público generalista antes da moda de SUV ganhar força no mercado automobilístico nacional, além do mais considerando a alta complexidade e extrema precisão dos sistemas de injeção que se fazem necessários para conciliar o desempenho ao gosto de consumidores com perfis diversos e a economia de combustível a um controle de emissões cada vez mais rigoroso. E mesmo que a injeção eletrônica já constitua um salto evolutivo no tocante a motores de ignição por faísca, a permanência de outras características como a refrigeração a ar e a aspiração natural em contraste com uma presença massificada da refrigeração líquida e do turbo em motores Diesel automotivos ou até destinados a diversas aplicações para as quais a exigência quanto ao controle de emissões permanece menos intensa acarretaria num custo e complexidade aparentemente difícil de assimilar para uma parte considerável do público motociclístico, ao menos entre os modelos de entrada.

A grande demanda por motocicletas em serviços urbanos, reforçando o caráter utilitário de modelos tão diversos quanto uma Honda Pop 110i movida somente a gasolina ou uma Honda Bros 160 ESDD com a capacidade de operar também com etanol, seria outro aspecto que eventualmente viria a justificar o uso de um motor Diesel, mesmo que a falta de opções nas respectivas faixas de cilindrada e potência induza a um questionamento quanto à adaptabilidade de alguns motores estacionários/industriais com faixas de rotação consideravelmente mais estreitas e cilindrada por volta de 3 vezes mais alta para proporcionar o desempenho mais próximo possível do original. E se por um lado o óleo diesel e eventuais substitutivos como o biodiesel ou até mesmo óleos vegetais brutos acabariam sendo bem menos problemático quanto às emissões evaporativas, por outro o acréscimo de peso e a necessidade de silenciadores mais eficazes para manter um nível de ruídos aceitável gerariam desconfiança junto a autônomos que eventualmente usem a mesma moto de trabalho para fins particulares e despertasse um interesse mais restrito a grandes frotas empresariais como dos Correios, mesmo que fosse possível emplacar motos com algum daqueles motores Diesel estacionários/industriais com refrigeração a ar, e na pior das hipóteses recorrer a uma bomba injetora com governador eletrônico.

Pode-se até esperar uma melhor adaptabilidade ao Diesel entre as motos de alta cilindrada e concepção mais tradicional como uma Harley-Davidson, ou ainda média cilindrada como as Royal Enfield Classic que chegaram a ter versões Diesel somente na Índia ao menos até 2007, sendo o fator mais limitante um câmbio totalmente integrado ao cárter do motor mesmo quando o chassi comportaria um com a carcaça separada. Lembrando como o uso de motocicletas chegou a ser muito difundido em operações militares num outro momento histórico, também cabe destacar como alguns segmentos específicos podem até ser mais receptivos a um motor Diesel motociclístico, tanto para finalidades civis/turísticas quanto indo já com a faca na bota para uma zona conflagrada. Enfim, por mais que a cultura brasileira ainda perpetue a imagem da moto como inerentemente "inferior" ao carro e longe de justificar custo e complexidade de motores Diesel, eventualmente ainda pode ser uma boa opção em algumas condições de uso.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html