terça-feira, 27 de setembro de 2022

Seria o motor Toyota 5L-E o mais próximo de um sucessor espiritual do motor do Ford Modelo T?

Uma comparação que pode parecer loucura num primeiro momento, embora o distanciamento histórico a torne coerente mesmo que seja difícil apontar um sucessor específico para o Ford Modelo T dentre os inúmeros carros "populares" que o seguiram e também considerando as caminhonetes. Também seria o caso de destacar uma diferença bastante óbvia pelo motor do "Ford Bigode" ser de ignição por faísca, e o Toyota 5L-E ser Diesel e portanto ter ignição por compressão, em que pesem ambos os motores terem chegado ao ponto de serem taxados como "obsoletos" durante os respectivos ciclos de produção mesmo com alguns segmentos ainda sendo particularmente receptivos a uma alegada falta de refinamento que a bem da verdade chega a ser vantajosa em algumas condições operacionais. Pode até ser apontado contra o motor do Ford Modelo T a única aplicação automotiva ter sido para a qual foi designado, ao contrário do 5L-E que atravessou algumas gerações de caminhonetes e SUVs médios e vans da Toyota mantendo uma presença em regiões especialmente desafiadoras como a África e o Oriente Médio.

O motor 5L-E teve uso no Brasil mais restrito à última fase da Hilux quadrada, com uma remodelação que foi aplicada à 5ª geração a partir de '99 somente na fábrica da Argentina ao invés de atualizar para a 6ª geração em sintonia com outros mercados até na América do Sul como na região andina, deixando de ser oferecido em 2005 quando a Euro-3 passou a vigorar por aqui. Naturalmente é um motor rústico ao extremo, com injeção indireta e aspiração natural que estão distantes de oferecer o mesmo desempenho que um motor como o 1GD-FTV alçado à condição de único motor disponível para a atual geração da Hilux no Brasil devido às novas normas de emissões evaporativas que afetaram especialmente a versão flex com o motor 2TR-FE movido a gasolina e etanol. Ainda assim, considerando diferentes perfis de uso priorizando aspectos mais essencialmente utilitários ao invés de somente simbolizar um status que até um público essencialmente urbano tem atribuído a caminhonetes, é previsível que em outros países como o Senegal um motor como o 5L-E ainda seja oferecido como uma opção mais conservadora aos 1GD-FTV e 2GD-FTV cuja presença do turbo e da injeção common-rail soe desnecessariamente onerosa tanto na aquisição quanto nas manutenções preventivas.

Outro modelo que permanece com o motor 5L-E disponível em algumas versões, tanto as mais austeras quanto outras de aspirações mais luxuosas, é o Toyota Land Cruiser Prado da geração J150, lançada em 2009 e que já chegou a ter uma mudança entre os motores turbodiesel com a substituição do 1KD-FTV pelo 1GD-FTV a partir de 2015 nos países onde o modelo é oferecido regularmente. Já o 5L-E, mesmo que pareça "arcaico" demais, permanece confortavelmente em algumas regiões onde a regulamentação de emissões é mais branda e as condições ambientais severas se mantém tão relevantes quanto os custos de manutenção diante de fatores que incluem a mais absoluta precariedade do controle de qualidade dos combustíveis como teores elevados de enxofre. E a bem da verdade, também vale recordar a preferência de entidades estatais, ONGs e de forças militares ou até paramilitares e grupos guerrilheiros e terroristas pelos utilitários Toyota em algumas das regiões mais conflagradas ao redor do mundo, e sob condições nas quais chegar ao destino mesmo que seja necessário fazer um reparo emergencial no veículo é mais importante que ter o motor mais moderno...
Outro aspecto pertinente numa analogia do motor Toyota 5L-E como o sucessor espiritual do motor do Ford Modelo T é uma adaptabilidade ao uso de combustíveis alternativos eventualmente até produzdos em pequena escala por fazendeiros visando atender ao próprio consumo, certamente facilitada por uma ausência do filtro de material particulado (DPF) mas também pela injeção indireta que em outras épocas foi fundamental para motores Diesel de alta rotação lidarem com os índices de cetano (que mensuram a intensidade de propagação de chama nas câmaras de combustão) muito mais baixos no óleo diesel convencional em comparação a hoje. Inevitável fazer uma analogia com a possibilidade de operar um Ford Modelo T com o mesmo etanol de milho produzido por fazendeiros para ser vendido como um whisky clandestino durante a Lei Seca e popularmente conhecido como "moonshine". Em que pesasse o motor do Ford Modelo T ficar limitado a uma taxa de compressão baixíssima até diante do "normal" em outros motores de válvulas laterais, para preservar a capacidade de operar com a gasolina de octanagem patética disponível em 1908 quando foi lançado, a conveniência para clientes rurais poderem produzir o próprio combustível é um daqueles pontos improváveis que propiciam colocar motores tão diferentes na mesma "linha sucessória"...
Em que pese a única aplicação automotiva regular do motor do Ford Modelo T ser o próprio, cujo ciclo de produção iniciou-se em 27 de setembro de 1908 e encerrado em 26 de maio de 1927 sem considerar a montagem de alguns kits CKD na Irlanda em 1928, o motor ter permanecido em linha até 4 de agosto de 1941 para atender tanto à reposição quanto aplicações industriais e propulsão de embarcações e até o uso em alguns equipamentos militares é notável, e torna difícil apontar um sucessor espiritual. E apesar que poderia ter incorporado algumas melhorias testadas e aprovadas antes que passasse a predominar nos hot-rods a preferência pelos motores V8, podendo ter estendido ainda mais o ciclo de produção do motor do Ford Modelo T, manter a especificação mais próxima desde o início já é outra semelhança que pode ser apontada na comparação ao motor Toyota 5L-E. Enfim, por mais que pareça improvável numa primeira vista, o motor do Ford Modelo T pode ter um sucessor espiritual tão destacado quanto...

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

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http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html