sábado, 15 de setembro de 2012

Uma reflexão sobre a "potência sensível"

Valores absolutos de potência podem impressionar à primeira vista, mas na prática os 90 cavalos do motor Hurricane 2.6L de 6 cilindros usado no Aero-Willys podem parecer "pôneis malditos" diante dos 71 desenvolvidos pelo motor 4D56 de uma Mitsubishi L300...

A proporcionalidade entre as curvas de potência e torque é uma importante característica a se destacar nos motores Diesel, fazendo com que mesmo um motor de potência relativamente limitada apresente um desempenho adequado em comparação com veículos de configuração semelhante equipados com motores de ignição por faísca. Até mesmo um motor como o C223 usado no Isuzu Bighorn de 1ª geração (mais conhecido fora do Japão como Isuzu Trooper) apesar da modesta cilindrada de 2.2L pode apresentar bons resultados, considerando a maior liberdade que o torque mais farto já em baixas rotações traz para um escalonamento mais preciso das relações de marcha.

A alguns anos atrás, um uruguaio havia me dito que por lá, livre das absurdas restrições jurídicas por capacidade de carga ou sistema de tração impostas aos brasileiros, adaptar motor Diesel e câmbio de 5 marchas de caminhonetes Isuzu foi uma solução encontrada por proprietários de "banheiras" das décadas de 50, 60 e 70 para driblar o alto consumo de grandes motores entre 6 e 8 cilindros sedentos por gasolina que em alguns casos superavam o dobro da cilindrada do modesto C223 e em nada eram auxiliados por vetustos câmbios de 3 marchas.
Se proporcionavam desempenho aceitável até mesmo em pequenos caminhões, motores como o Isuzu 4JB1 de 2.8L podiam trazer vida nova a um envelhecido Ford Galaxie/Landau (os exemplares das fotos NÃO são os mesmos).

Até mesmo no mercado americano, tão apegado a layouts mecânicos conservadores que vem perpetuando até mesmo o eixo rígido nos Mustang desde o modelo original de 1964 até as versões atuais do Shelby GT500, o Diesel vem ganhando espaço.

Já começam a cair por terra alguns preconceitos, e pode-se encontrar até quem aposte no Diesel com algumas pretensões esportivas. Um bom exemplo é a pickup Chevrolet SS-10, na qual uma opção bastante comum para quem quer um upgrade com relação ao motor Vortec 4300 V6 original de 265pol³ ou 4.3L 180hp é o V8 small-block de 350pol³ ou 5.7L também conhecido como Vortec 5700, que apesar de poder atingir potências superiores a 300hp com grande facilidade recentemente vem sendo preterido por alguns proprietários que passam a considerar o uso de motores Diesel de 4 cilindros entre 2.4L e 4.0L. Há usuários que alegam ter obtido desempenho equivalente ou até melhor que o proporcionado pelo tradicional V8 small-block ao lançar mão de um motor Diesel que às vezes não supera a barreira de 150hp. Para os mais ávidos por altas potências, a evolução dos sistemas de admissão forçada por turbocompressor faz com que o custo para atingir uma determinada faixa de potência fique mais parelho mesmo entre motores de concepção muito distinta, sem sacrificar o generoso torque do Diesel. Assim, torna-se uma opção racional até mesmo para um esportivo tradicional como o Chevrolet Camaro...

Devo confessar que já me atraiu muito a hipótese de adaptar um motor Diesel num Nissan 350Z, levando em consideração as curvas de desempenho do motor Cummins B3.9 e a maior liberdade para selecionar as melhores relações de marcha proporcionada pelo torque. Comparando o motor Nissan VQ35DE original do 350Z, que em diferentes versões foi de 287 a 306hp entre 6200 e 6800 RPM com torque entre 36 e 38mkgf a 4800 RPM, com uma versão do Cummins B3.9 desenvolvendo 152hp a 2500 RPM e avantajados 56mkgf a 1500 RPM, a potência mais limitada não parece um grande inconveniente mesmo com a intenção de alcançar ao menos os mesmos 250km/h limitados eletronicamente com o VQ35DE, sobretudo ao considerar que o B3.9 permite a um caminhão Ford Cargo 815 manter velocidades acima dos 90km/h em tráfego rodoviário mesmo com peso ligeiramente superior a 3000kg vazio, chegando facilmente aos 4000kg dependendo da carroceria aplicada e 8250kg de peso bruto total quando totalmente carregado, uma relação de diferencial muito reduzida, e uma aerodinâmica próxima a um tijolo, enquanto um 350Z original não passa de 1634kg e mesmo que a troca de motor fosse bem-sucedida seria possível manter o peso abaixo de 2000kg. Vale destacar que, num Ford Cargo 815, não seria fácil manter um desempenho adequado usando o VQ35DE apesar da potência maior...

Na prática, um valor mais alto de potência pode simplesmente não se refletir em vantagens perceptíveis à dirigibilidade. Por exemplo, os 85 cavalos de um Mercedes-Benz 608-D podem parecer mais fortes que 149 de uma Chevrolet Veraneio...

2 comentários:

  1. Acho que o câmbio mais moderno nas caminhonetes japonesas pode até ajudar mais que o motor no caso da economia ao substituir um V8 numa banheira americana.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. De fato a relação de marchas faz a diferença. Com uma faixa útil de rotações mais estreita, um maior espaçamento entre as marchas pode ser vantajoso.

      Excluir

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html