terça-feira, 6 de outubro de 2015

Uma reflexão sobre a "luz de motor" em contraponto às "bandeiras tarifárias"

Não é de hoje que a política energética nacional se revela desastrosa, apesar da matriz energética ser constantemente apontada como "limpa" devido à predominância das usinas hidrelétricas que acaba por gerar uma perigosa dependência por esse método de geração de energia elétrica. O sistema elétrico brasileiro está muito precário, e não se deve descartar o risco de mais um "apagão". A situação crítica é evidenciada pelas "bandeiras tarifárias" que supostamente deveriam cobrir o custo maior que a geração térmica de energia elétrica apresenta, mas na prática não são muito mais do que um empecilho ao desenvolvimento de atividades produtivas, além de um retrato da incompetência estatal.
Um dos problemas associados aos aumentos no custo da energia elétrica em períodos de poucas chuvas, representado pela "bandeira vermelha" na conta de luz, é a queda na produtividade agrícola, com reflexos no preço de alimentos e por conseguinte mantendo a inflação em taxas elevadas. Na Bahia, por exemplo, produtores de algodão que já deixavam para utilizar os pivôs de irrigação durante a madrugada pelo custo menor da eletricidade, agora deixam alguns desligados, e em algumas fazendas a safra de feijão não será plantada. E ainda tem quem prefira apontar os biocombustíveis como um fator de risco para a segurança alimentar, quando na verdade o biodiesel ou mesmo o uso direto de óleos vegetais como combustível para grupos geradores poderiam garantir a energia necessária ao funcionamento de dispositivos usados no cultivo e beneficiamento de gêneros alimentícios (milho, feijão, entre outros) e cash-crops destinadas a aplicações industriais (notadamente o algodão).

O próprio óleo de semente de algodão poderia servir tanto como matéria prima para a produção de biodiesel quanto ser usado diretamente como combustível para a geração da eletricidade que se faz necessária para assegurar a produtividade da agricultura moderna, e viria a honrar o legado do visionário Dr. Rudolf Diesel, que acatando sugestão do governo francês para pesquisar o uso de óleo do amendoim cultivado nas colônias francesas da África como combustível passou a ter entre as principais motivações para o desenvolvimento dos motores de ignição por compressão a viabilidade de uma promoção da autonomia energética em localidades rurais. Vale lembrar que a chamada "luz de motor" também teve papel crucial nos primórdios da eletrificação rural brasileira, ainda que naquela época o óleo diesel convencional e o querosene fossem os combustíveis predominantes nessa aplicação.

Ainda que os óleos vegetais, tanto puros quanto misturados com gorduras de origem animal, demandem alguns cuidados especiais para assegurar longevidade e um correto funcionamento dos motores que os utilizem, não seria um grande empecilho para operação em regime constante. O preaquecimento do óleo é fundamental para manter a fluidez, bem como reduzir o risco de uma polimerização da glicerina por combustão incompleta, e pode ser mantido com facilidade ao recuperar calor residual do sistema de refrigeração do motor ou até mesmo dos gases de escape depois que o motor é posto em marcha. Mesmo a injeção indireta, hoje relegada à obsolescência tanto na maioria das aplicações veiculares quanto estacionárias/industriais, ainda poderia ser benéfica nessa operação devido à maior resiliência no uso de óleos combustíveis com diferentes especificações, apesar de uma maior sensibilidade à temperatura ambiente durante a partida a frio tornar um correto preaquecimento ainda mais crítico...

Grupos geradores acionados por motor Diesel tem sido cada vez mais comuns em aplicações comerciais em área urbana, ainda que nesse caso predomine a operação intermitente e sirvam principalmente como backup emergencial durante quedas de luz, e também para reduzir custos durante o chamado "horário de pico", quando as tarifas de energia elétrica são mais elevadas. Portanto, numa comparação com a operação contínua, alguns fatores que influenciam na partida a frio se mostram mais críticos para que entrem em funcionamento mais rapidamente de modo a minimizar oscilações na tensão das instalações que estejam servindo-se desses equipamentos, além de hoje haver uma maior fiscalização quanto às emissões em algumas regiões, não apenas no tocante aos gases de escape mas também quanto aos níveis de ruído.
Por mais que grupos geradores sejam uma boa alternativa para manter um suprimento seguro e constante de energia diante de uma rede elétrica sucateada e cada vez mais sobrecarregada, não devem ser encarados como um pretexto para justificar que o governo e as concessionárias (tanto públicas quanto de capital misto ou totalmente privatizadas) permaneçam negligentes e insistindo num modelo de negócio que tem se mostrado insustentável. Basicamente o que vem sendo feito é penalizar o setor produtivo com tarifas abusivas que não se revertem em melhoria no serviço prestado, a tal ponto que a geração própria de energia elétrica mediante uso de grupos geradores movidos a óleo diesel se torna uma opção economicamente viável o suficiente para ter uma aceitação cada vez maior não apenas em aplicações comerciais e industriais.
Outro atrativo é a existência de grupos geradores "portáteis", montados sobre plataformas rebocáveis. Já muito comuns em áreas urbanas, além da utilização em resposta a emergências, tem na mobilidade uma grande vantagem para atender a variações sazonais na demanda por eletricidade que seria particularmente apreciável no setor agropecuário. Podem ser movimentados com auxílio de trator, como ocorre em aeroportos onde o dispositivo é normalmente mencionado como APU (Auxiliary Power Unit - Unidade de Força Auxiliar) ou GPU (Ground Power Unit - Unidade de Força em Solo) e é usado para manter o sistema elétrico de aeronaves em operação mesmo com os motores desligados para garantir o conforto de passageiros e tripulação durante procedimentos de embarque e desembarque.

Muitas operações essenciais para a atividade agropecuária hoje dependem da eletricidade, não apenas a irrigação de lavouras mas também outras tão diversas quanto o controle de temperatura em aviários e a oxigenação da água em tanques de piscicultura. Diante da precariedade no fornecimento e os preços abusivos cobrados pela energia elétrica no Brasil, não há de se descartar que a "luz de motor" volte a ter uma importância considerável na eletrificação rural, e motores do ciclo Diesel figurem como a opção mais adequada para atender a essa necessidade.

3 comentários:

  1. Só os mais ignorantes não percebem que o caldo vai entornar mais cedo ou mais tarde. Desse jeito, parece que fazem de propósito para faltar comida igual na Venezuela.

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  2. Depois de terem cortado verba para o controle do mosquito da dengue e agora quererem usar os casos de microcefalia como pretexto para voltar com a CPMF, eu não duvido que haja algum interesse em prejudicar a produção agrícola para tentar usar como pano de fundo de algum discurso a favor da tal reforma agrária e largar terras na mão de vagabundo.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html