quinta-feira, 4 de abril de 2019

Caso para reflexão: eventual influência das restrições brasileiras ao Diesel na defasagem entre as gerações do Peugeot 308 na Europa e América do Sul

Ao me deparar na semana passada com um Peugeot 308 de 2ª geração com placas brasileiras, que foi algo surpreendente embora eu já tivesse visto um com placa do Uruguai nas imediações do Colégio Militar de Porto Alegre no ano passado, foi impossível esquecer que a PSA vem sendo uma das mais importantes desenvolvedoras de motores Diesel para veículos leves a nível mundial. O exemplar que eu vi é a gasolina mesmo, equipado com o motor THP de 1.6L com turbo e injeção direta, e ao que tudo indica faz parte de um lote importado só para testes de homologação e posteriormente revendido antes que planos da importação dessa geração fossem suspensos. Em parte a maior sofisticação e os custos para atualizar o ferramental de produção na Argentina podem ter sido um empecilho para que fosse estabelecida uma produção regional no Mercosul, bem como as políticas protecionistas ainda em vigor no Brasil, mas nada me convence de que as restrições ao uso de motores Diesel em veículos leves com base nas capacidades de carga e passageiros ou tração não possam ter afetado perspectivas de mercado tanto para esse quanto para outros hatchbacks médios e também modelos de segmentos diferentes que cada vez mais perdem espaço para SUVs urbanóides que geralmente não chegam nem perto de honrar as capacidades de incursão off-road de antecessores com concepção mais tradicional.
Naturalmente o comprador de um hatch médio iria preferir uma imagem de mais "esportividade" que não costuma ser associada tão imediatamente a uma proposta off-road, ainda mais num país onde não se lembra com tanta frequência do histórico da Peugeot em campeonatos de rally, apesar de que com a necessária "tropicalização" que em ex-colônias francesas na África e departamentos ultramarinos franceses inclui maior altura de rodagem e até mesmo um diferencial de deslizamento limitado não é de se espantar que um modelo dessa categoria na mão de um colono na Guiana Francesa ou de um africano possa enfrentar condições de rodagem mais severas do que as encontradas por boa parte dos compradores de SUV no Brasil. Eventualmente não seja nem o caso de tentar fazer uma analogia com a aptidão off-road do Fusca e derivados como outro pretexto para se considerar uma derrubada dessas restrições absurdas ao licenciamento de automóveis com motor Diesel no país ao considerarmos uma disponibilidade do diferencial de deslizamento limitado que às vezes faz falta até em trechos urbanos, mas não se pode negar que o modismo dos SUVs mesmo que nem sempre dotados dessa motorização fomenta o desinteresse em atualizar a linha de modelos como o Peugeot 308 cuja 1ª geração ainda em produção na Argentina passou por uma remodelação concentrada na frente e cujo resultado ficou um tanto questionável. O grande volume de vendas do mercado brasileiro comparado a países vizinhos, e que nos últimos anos vem contando com uma maior participação de modelos com percepção de valor agregado superior como é o caso dos SUVs e também com a opção pelo câmbio automático atraindo mais consumidores, levaria a crer que uma liberação do Diesel pudesse ser atrativa para manter uma oferta mais diversificada e manter a relevância de segmentos como o dos hatches médios.
Levando em consideração que na Argentina o modelo antigo permanece em linha com duas opções de motores de ignição por faísca entre o vetusto EC5 e o THP além de um turbodiesel, paralelamente à versão GT da atual geração importada da França somente com o motor THP, pode-se deduzir que a liberdade de escolher a motorização mais adequada às necessidades e/ou preferências do operador sem distinções por capacidades de carga e passageiros ou sistema de tração é uma medida salutar para uma diversificação das categorias de veículos no mercado e também favorece os consumidores. Não dá para esquecer que um automóvel mais convencional frequentemente proporciona condições mais favoráveis à economia de combustível em comparação a um SUV de tamanho próximo, destacando o peso mais baixo e a aerodinâmica mais apurada, o que seria especialmente vantajoso diante do uso de pick-ups e SUVs legalmente aptos a usar motores Diesel no Brasil como veículos particulares e assim subvertendo a idéia de que uma definição arbitrária de "utilitários" poderia ser útil para priorizar a disponibilidade de óleo diesel convencional para aplicações de serviços. Enfim, mesmo que passe longe de ser o fator mais determinante para a defasagem entre o Peugeot 308 europeu e o argentino, nem para a consolidação do mercado automobilístico brasileiro numa menor variedade de categorias, não dá para descartar que as restrições brasileiras ao Diesel tenham alguma influência nessa dinâmica até mesmo a nível de Mercosul.

3 comentários:

  1. Eu não acho que seja tão fácil para um carro desse tipo servir melhor como carro familiar que um SUV mesmo. Se fosse uma minivan ou uma perua talvez.

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    1. Realmente. Diga-se de passagem em alguns países da região ainda chegou a ser vendida a 308 SW.

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  2. Não tenho tanta certeza se uma correlação entre os SUVs e a preferência pelo motor a diesel seja tão justa, mas alguns amigos que trocaram o carro normal por um SUV já fizeram também a transição para o motor a diesel.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html