segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Reflexão: poderia uma maior prevalência do Jeep "flatfender" em proporção ao CJ-5 ter favorecido esse tipo de veículo em uso particular?

Uma linha marcada pelo batismo de fogo dos Willys MB na II Guerra Mundial, que no fim do conflito daria origem ao CJ-2A como primeiro Jeep para o mercado civil ainda equipado com o motor Go Devil de válvulas laterais e culminando no CJ-3B que adotava um compartimento de motor mais alto visando acomodar o motor Hurricane que tinha uma altura maior trazendo as válvulas de admissão no cabeçote, a linha conhecida como "flatfender" entre entusiastas norteou o desenvolvimento de derivativos do Jeep Willys em países tão diversos quanto Índia, Filipinas, Japão e até Espanha. Mais curtos e estreitos que gerações subsequentes da linha CJ, se revelavam convenientes tanto em manobras militares quanto para uma infinidade de usos em tempos de paz, conciliando uma capacidade de tração especialmente útil nas atividades agropecuárias e tamanho prático para trafegar por ruínas do pós-guerra em meio aos esforços de reconstrução. Trazidos ao Brasil somente com os motores originais a gasolina, em outros países uma procura mais imediata por economia de combustível fomentava adaptações de motores Diesel desde os modelos com capô baixo nas Filipinas, e o desenvolvimento de versões regionais do CJ-3B já contando com essa opção na Índia pelas mãos da Mahindra, no Japão onde a Mitsubishi desenvolveu uma linha de motores Diesel por conta própria a partir do Hurricane, e na Espanha onde o motor Perkins 4-108 foi tão requisitado que rapidamente prevaleceu.

Com a produção da linha Jeep CJ no Brasil concentrando-se no modelo CJ-5 entre as décadas de '50 e '80, iniciada com uma versão de 6 cilindros do motor Hurricane e posteriormente usando o motor Ford OHC 2.3 com 4 cilindros que equipou o Maverick, permaneceu a concepção austera e essencialmente utilitária da qual as gerações mais recentes de SUVs estão cada vez mais distanciadas. E se hoje apesar da altura ainda causar uma impressão de ser maior para quem observa de fora, algo que de certa forma é desejável aos olhos de uma parte do público em busca de um veículo com aparência mais robusta com o intuito de "impor respeito" aos outros motoristas e também a pedestres e ciclistas mais relapsos, largura e comprimento se mantiveram em patamares que até podem ser considerados mais razoáveis que os de algumas gerações de carros compactos e "populares" com projetos muitos mais recente, em que pese a configuração com motor longitudinal no Jeep requerer um espaço melhor aproveitado nos automóveis generalistas da atualidade que incorporaram o motor transversal e a tração dianteira como padrão. Vale lembrar que no exterior o CJ-5 foi oferecido com uma grande variedade de motores, desde uma versão do Go Devil com a cilindrada aumentada de 2.2L para 2.5L mas ainda com válvulas laterais somente na Argentina até um V8 da AMC, e dispôs até mesmo do Perkins 4-192 de 3.1L como uma opção Diesel que chega a soar especialmente peculiar sob uma perspectiva brasileira, tendo em vista que no Brasil o CJ-5 nunca foi oferecido em versões Diesel mesmo tendo sido a principal referência para a inclusão dos jipes entre os veículos reconhecidos como "utilitários" para fins de homologação à medida que surgiam as restrições ao uso de motores Diesel em automóveis e alguns utilitários leves com base na capacidade de carga e passageiros ou tração.

Considerando uma consolidação do mercado brasileiro em torno de automóveis compactos que ganhou força com a chegada da Volkswagen e o sucesso do Fusca, levando até fabricantes americanos como a General Motors a buscarem uma receita mais européia com o Chevrolet Chevette que foi o equivalente nacional do Opel Kadett C, é bastante fácil deduzir que os "flatfenders" poderiam ter proporcionado um ambiente mais favorável ao desenvolvimento de uma cultura análoga à do que se conhecia nas Filipinas como "owner-type Jeep" geralmente baseados em reproduções da carroceria do Willys MB e um chassi artesanal. No tocante a motores, enquanto os Isuzu C240 de 2.4L e 4BA1 de 2.8L faziam sucesso junto ao público filipino, é conveniente recordar que carrocerias feitas em aço inox nas Filipinas com base no Willys MB chegaram a ser usadas nos Estados Unidos para a montagem do que se conhece por "Veep", associando a mecânica Volkswagen ao estilo característico do Jeep que começava a ser mais apreciado como veículo de lazer entre as décadas de '70 e '80 quando "caminhões leves" eram uma boa opção para os fabricantes instalados nos Estados Unidos serem menos impactados pelas normas de emissões e por metas de redução de consumo de combustível aplicáveis aos automóveis. Tendo em vista que seria mais fácil adaptar a "flatfenders" um conjunto mecânico de automóvel compacto mantendo um desempenho satisfatório, e valendo-se da mesma licença poética que levou ao predomínio da tração somente traseira no "owner-type Jeep", eventualmente um motor como o Isuzu 4FB1 de 1.8L que chegou a equipar em mercados de exportação o Chevette brasileiro teria caído como uma luva.

Por mais inegável que seja a importância histórica do Jeep CJ-5 também num contexto brasileiro, e até a distinção de ter sido o primeiro veículo produzido em série no Nordeste quando a Willys-Overland do Brasil chegou a operar uma linha de montagem na cidade pernambucana de Jaboatão dos Guararapes, o eventual descaso com relação aos antecessores desse modelo junto a uma parte do público generalista é absolutamente injustificado e resulta de alguma ignorância. Com uma configuração básica que serviu às mais diversas necessidades mundo afora, a linha Jeep CJ de um modo geral ainda é uma referência para o segmento de utilitários por ter inaugurado a categoria que viria a ser denominada "jipe" e influenciou em parte até a obsessão por SUVs que hoje se observa nas mais distintas regiões. E por mais que num primeiro momento possa soar improvável, além do mais que em alguns momentos o Jeep CJ-5 chegou a ser o veículo 0km mais barato à venda no Brasil, a princípio uma maior prevalência dos "flatfenders" poderia ter favorecido essa categoria de veículo junto a usuários particulares.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html