quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Kombi: teria o fim de produção sido ditado realmente só pela questão da segurança?

Alçada da condição de utilitário para ser reconhecida como um ícone histórico e cultural, a Kombi tem ainda muitos apreciadores tanto pela austeridade no uso comercial quanto por uma versatilidade para os momentos de lazer, destacando-se o espaço interno conveniente até para acampar. Favorecida aos olhos do público generalista pela simplicidade do motor Volkswagen boxer refrigerado a ar e que chegou a ser oferecido tanto movido a gasolina quanto a etanol, em contraste com outros utilitários com capacidades semelhantes de carga ou passageiros mais frequentemente dotados de motores com mais cilindrada e de complexidade técnica maior, também apresenta em função do motor e tração traseiros uma desenvoltura para enfrentar condições de rodagem severas que muito SUV da moda está longe de equiparar. E apesar de permanecer apreciável para atender à efetiva necessidade de alguns operadores profissionais com um projeto essencialmente inalterado desde a década de '50, algumas questões que foram além das normas de emissões culminaram com o fim da produção em 2013, mas a Kombi ainda é presença constante nas ruas e estradas brasileiras.
Com a substituição do motor boxer então com cilindrada de 1.6L por uma versão de 1.4L e flex do EA-111 na transição para o ano/modelo 2005-2006, o aumento do peso em 47kg foi refletido na capacidade de carga nominal, que só permaneceu acima do mínimo de uma tonelada requerido para a homologação como "utilitário" de acordo com a regulamentação para autorizar um eventual uso de motor Diesel para a versão furgão. Nesse caso, além de uma parte do público ainda preferir a versão Standard envidraçada e homologada com 9 assentos porque o valor de revenda parecia mais atrativo que uma cargueira pura e simples, a Volkswagen do Brasil ter mantido o peso bruto total técnico no mesmo patamar de antes da substituição do motor parecia mais próximo de inviabilizar a continuidade da produção da Kombi após 2013 que a exigência de airbag para motorista e passageiro dianteiro e freios ABS implementada no Brasil em 2014 que no caso específico do airbag chegou a dispensar modelos considerados "utilitários" com base nos mesmos critérios de capacidade de carga e passageiros ou tração aplicados no tocante aos motores Diesel. Para um modelo que seguia em produção somente no Brasil, basicamente por causa de algumas peculiaridades do país que justificavam à Volkswagen manter essa operação mas inibiriam um investimento mais significativo em atualizações, o destino da Kombi estava selado.
Até podia fazer sentido simplesmente aumentar o PBT para acomodar alguns motores mais pesados que o boxer, incluindo do EA-111 flex a um eventual turbodiesel, que já havia se tornado uma característica essencial aos olhos de muitos operadores comerciais que já aderiam a outros utilitários mais modernos e com capacidades de carga maiores antes do fim da produção da Kombi. Vale destacar que o mercado de acessórios já fornecia reforços para a suspensão, mais direcionados aos adeptos de conversões para gás natural que podiam ser um quebra-galho em algumas aplicações mas permanece longe do ideal em uma campervan por exemplo, bem como a Volkswagen ter feito discretas alterações estruturais na Kombi em diferentes momentos durante o ciclo de produção do modelo no Brasil, portanto era tecnicamente viável levar adiante uma tentativa de "salvar" esse utilitário tão icônico. E mesmo que instalar airbags fosse na prática como enxugar gelo, além de requerer um investimento proporcionalmente mais alto, a presença dos freios ABS hoje até em motos de pequena cilindrada como a Yamaha XTZ 150 Crosser que desde 2019 usa esse sistema na roda dianteira é um indício suficientemente claro que mesmo um projeto mais antigo como o da Kombi poderia justificar a instalação mesmo diante de uma alegação que seria difícil acomodar os sensores.
Por mais que algumas regulamentações de segurança veicular sejam coerentes, e uma presença de freios ABS já alcançando motos utilitárias levasse a crer numa relativa facilidade para que até a Kombi viesse a permanecer viável no mercado brasileiro por mais alguns anos, aparentemente uma oferta de motores muito restrita e a indisponibilidade de conveniências como ar condicionado e direção hidráulica podem ter sido até mais determinantes que a exigência de airbag em veículos sem tração 4X4 com capacidade de carga inferior a uma tonelada e acomodação para menos de 9 passageiros além do motorista. Como o público cativo da Kombi muitas vezes priorizava a possibilidade de conduzir com habilitação categoria B, essa condição inviabilizava aumentar a quantidade de assentos para classificar como microônibus e burlar a obrigatoriedade do airbag ao mesmo tempo que teria assegurado o direito de usar motor Diesel. Enfim, observando desde uma aptidão ao uso severo até algumas características hoje ganhando espaço numa classe de veículos como a das motos que é tão alheia à proposta da Kombi, fica claro que o fim da produção pode não ter se dado exclusivamente pela questão da segurança

Um comentário:

  1. Um veículo de projeto claramente obsoleto, mas só para os padrões europeus ou americanos porque no Brasil ainda tem muito pai de família que tira o sustento usando a Kombi como ferramenta. E chega a lugares onde muito furgão moderno empaca pelo caminho.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

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