quarta-feira, 1 de julho de 2015

O paradoxo da Venezuela

Muito se comenta sobre os preços dos combustíveis na Venezuela e o modelo insustentável de subsídios adotado no mercado interno, que levou a uma proliferação de caminhonetes e sedãs full-size com opulentos motores de 6 a 8 cilindros em épocas de vacas mais gordas enquanto o Diesel ficava relegado a segundo plano até mesmo por alguns operadores comerciais. A gasolina barata já foi um orgulho venezuelano, mas hoje é encarada mais como uma preocupação para a ditadura chavista diante dos custos de produção e do comprometimento das divisas provenientes de exportações de petróleo e derivados.

Mesmo sendo membro fundador da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP - OPEC - Organization of Petroleum Exporter Countries), a precariedade dos combustíveis e outros produtos petroquímicos venezuelanos já tem levado alguns mercados de exportação tradicionais a reconsiderarem os contratos com a deficitária PDVSA (Petróleos de Venezuela, S.A.). Para manter os custos operacionais baixos de modo a minimizar o impacto do uso político dos preços dos combustíveis no mercado interno, o nível de qualidade também acabou estagnado diante da falta de investimentos em modernização das refinarias que se fariam necessários para atender a especificações mais rígidas e agregar valor aos produtos no mercado internacional. O óleo diesel venezuelano é reputado como o pior da América Latina devido ao teor de 5000ppm (partes por milhão - 0,5%) de enxofre, característica apontada por defensores das recentes restrições ao Diesel em veículos leves no Uruguai como uma justificativa plausível para o cenário vivenciado hoje por lá, ignorando a riquíssima tradição agropastoril e agroindustrial cisplatina que poderia valer-se da produção local de biodiesel e óleos vegetais para uso direto como combustível não só uma forma de agregar rentabilidade ao setor ruralista mas também incrementar a segurança energética.

A situação geral da Venezuela é absurda, tendo em vista que 70% dos alimentos consumidos por lá são importados e a ditadura hoje no poder praticamente inviabiliza o comércio exterior, a ponto de até o McDonald's precisar servir mandioca frita para contornar a falta de batata importada da Argentina. Nem mesmo o ingresso no Mercosul tem aliviado as necessidades do espoliado povo venezuelano, que já enfrenta crises de desabastecimento e racionamento de comida e itens básicos de higiene e cuidados domésticos. Mas e as reservas de petróleo, não seriam suficientes para comprar votos e proporcionar um bom padrão de vida à massa de manobra população? Na verdade a produção petrolífera venezuelana já está praticamente toda comprometida para o pagamento das dívidas contraídas em dólar com a China, e ainda assim o volume não vem sendo suficiente para honrar os compromissos. Cortar os subsídios à gasolina no mercado interno seriam um suicídio político, a última assinatura que faltaria para os atestados de incompetência de Hugo Chávez e Nicolás Maduro.

A prevalência de motores de ignição por faísca, que não deixa de ser parte do problema no tocante à segurança energética, acabou servindo como pretexto para a rápida implantação de um paliativo que foi o programa Autogas lançado em 2009 por Hugo Chávez, que instituiu por decreto uma cota mínima de 50% do mercado automotivo para veículos com capacidade para operar tanto com gasolina quanto com gás natural, o que quase extinguiu a já irrisória oferta de veículos leves com motor Diesel na Venezuela e levou até alguns fabricantes tradicionais como Chevrolet e Toyota a se retirarem do segmento de caminhões. Mas o que pareceria inicialmente uma solução "milagrosa" para diminuir o rombo nas finanças da PDVSA ao substituir no mercado interno pelo gás que sai quase de graça (por ser apenas filtrado, odorizado com etilmercaptano e comprimido ao invés de passar por um refino mais complexo e dispendioso de energia) uma gasolina vendida abaixo do preço de custo e também suprindo uma parte da demanda por óleo diesel e outros óleos combustíveis industriais que passam a ser comercializados pelos preços do mercado internacional ainda tem algumas limitações.

Além dos transtornos óbvios como acréscimo de peso e redução na capacidade de carga em automóveis e utilitários, em alguns casos comprometendo também a capacidade de incursão fora-de-estrada, tais características ficariam exacerbadas no transporte pesado por caminhões e ônibus, bem como em aplicações especiais como viaturas militares e embarcações. Mesmo com uma complementação e posteriormente uma eventual transição do gás natural fóssil para o biogás/biometano já estando nos planos, a Venezuela corre algum risco pela decisão monocrática do então ditador Chávez e endossada por Maduro, que não devem ter sequer olhado com a mínima atenção para a superioridade do Diesel no tocante à eficiência energética e à adaptabilidade a um espectro mais amplo de combustíveis alternativos como o biodiesel e o etanol, que podem ter a produção mais descentralizada e até consorciada a gêneros alimentícios.

A bem da verdade, além de matar o povo de fome não ser algo incomum em ditaduras socialistas (que o digam Coréia do Norte, Zimbabwe e outras tantas sucursais do inferno), parece haver um interesse obscuro em usar o preço e a disponibilidade restrita de alguns combustíveis como uma barreira para dificultar uma eventual saída de dissidentes políticos e ainda manter a população aprisionada. E o pior de tudo é que há quem acredite piamente que o Brasil deva se espelhar na situação deplorável vivenciada atualmente no cenário político da Venezuela...

13 comentários:

  1. Fui uma vez na Venezuela, na época eu tinha uma Sportage. Abasteci com o diesel de lá e me assustou o fedor.

    ResponderExcluir
  2. Hay situaciones en que me da verguenza de ser venezolano.

    ResponderExcluir
  3. Venezuelano geralmente é metido a besta. Não sabem fazer um roçado de milho ou macaxeira mas se iludiam com gasolina barata e ficavam bajulando ditador. O que me entristece é que uma parte do povo brasileiro está trilhando o mesmo caminho idolatrando o cafajeste do Lula e a mocréia da Dilma.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. No te enganes, no somos todos los venezolanos mala gente, pero los chavistas si son parte de lo que hay de peor en la humanidad, tan sucios como los nazis y los bolcheviques. Corrupción y violencia lo vas a encuentrar en todos los países que siguen bajo las manos podridas de los comunistas, incluso Brasil. Solo rogo a Dios que los brasileños se deen cuenta de los peligros del socialismo y hagan de pronto un cambio en la politica.

      Excluir
    2. A esperança da maioria da população brasileira é que ocorra uma intervenção militar. Como disse recentemente o general Mourão, caso o judiciário não elimine da vida política alguns corruptos, o Exército teria que impor uma solução.

      Excluir
  4. McDonald's sem batata já seria um sinal mais que preocupante, desesperador, mas nem assim o Maduro acorda e vê que está fazendo tudo errado. É um psicopata mesmo.

    ResponderExcluir
  5. A riqueza do petróleo, se for mal administrada, é passageira. E como a Venezuela ainda precisa importar óleos crus mais leves para diluir aquele petróleo de lá que mais parece um asfalto, as contas não fecham mesmo. Teria feito muito mais sentido começarem antes com o gás e espalhar pelo país inteiro, e até usar biodigestores em áreas com criação de gado e processamento de vegetais. Podiam ter começado por Táchira, que já foi um grande pólo pecuário.

    ResponderExcluir
  6. Eu fico com dó dos venezuelanos, tem gente lá desesperada comendo carne de jegue. Se os cachorros abandonados não virarem osso antes, eu não duvido que comecem a comer os bichinhos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A situação dos cachorros abandonados na Venezuela é deprimente mesmo.

      Excluir
    2. Carne hoy es lujo en Venezuela. Muchas familias ya no tenian diñero ni para comprar pernil de cerdo al precio subsidiado.

      Excluir
  7. roraimense revoltado31 de março de 2018 às 05:51

    Não cuidam do próprio chiqueiro e agora vem roubar no Brasil, esse bando de vagabundo. Andam nas ruas com facão e ninguém faz nada, mas vá um cidadão de bem andar com um canivete de descascar mexirica no bolso pra ver a incomodação com polícia e o escambau. Já chega de nos fazer pagar pelos erros daquele lixo do Hugo Chaves que mesmo depois de morto deixou esse problema na conta do Brasil.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Também me desagrada que venezuelanos e outros entrem sem o menor controle no Brasil, e me causa ainda mais preocupação saber que estariam tentando intimidar a população brasileira.

      Excluir

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html