sábado, 4 de janeiro de 2014

Esclarecendo uma dúvida comum sobre os motores Fiasa

Apesar da conversão de motores do ciclo Otto para o ciclo Diesel não ser tecnicamente inviável, alguns não se mostram tão adequados para esse tipo de modificação quanto se poderia supor. Um dos casos que suscita mais dúvidas entre o público brasileiro é o dos motores Fiat da série Fiasa, introduzidos em 1976 com o 147 na versão de 1049cc movido a gasolina, diâmetro x curso de 76 x 57,8mm, usando carburador de corpo simples e ignição por platinado com 51cv a 6000 RPM e 7,3mkgf a 3000 RPM, e oferecido regularmente até 2004 numa versão de 1497cc a etanol, diâmetro x curso de 76 x 82,5mm, dotada de injeção eletrônica e ignição estática (sem distribuidor) com 77cv a 5000 RPM e 12,1mkgf a 2750 RPM para o Fiorino e versões básicas de Palio, Palio Weekend, Siena e Strada.

Comum a todas as versões dos Fiasa eram o diâmetro dos pistões, de 76mm, e as bielas com 130mm de comprimento, recorrendo a diferentes virabrequins para que fosse obtida a variação da cilindrada. O proprietário de um Fiat Uno Mille ou de um Palio 1.0 até 2001 pode facilmente montar um sleeper usando o virabrequim do 1.3 ou do 1.5 para aumentar a cilindrada (já que pouco provavelmente teria a sorte de encontrar um do Oggi CSS), podendo recorrer a diferentes ajustes de ignição e injeção (ou até carburação se preferir). Ao contrário da crença popular, no entanto, converter um Fiasa para Diesel já envolve outras dificuldades.

Mesmo que tanto o Fiasa quanto o motor conhecido na Europa como Super Diesel, de 1301cc e injeção indireta com 45cv a 5000 RPM e 7,6mkgf a 3000RPM, tenham sido projetados pelo engenheiro Aurelio Lampredi (1917-1989), não havia intercambialidade entre blocos, pistões e cabeçotes que facilitasse a montagem de um "misto-quente" como normalmente se faz nos motores Volkswagen da série EA-827. Para começar, enquanto o Fiasa não aceita muitas opções de sobremedida de pistões sem comprometer a integridade estrutural do bloco, o Super Diesel tinha pistões com diâmetro de 80,5mm, para um curso de 63,9mm.

Durante a década de '80, o Super Diesel chegou a ser testado pela Fiat brasileira para validação do óleo de mamona como alternativa ao óleo diesel convencional, usando como mula uma pickup City, mas a manutenção das restrições ao uso de motores Diesel em veículos leves fez com que o projeto acabasse engavetado apesar dos bons resultados, o que no entanto não eliminou até hoje o interesse (ainda que cada vez mais raro) por conversões clandestinas usando o Fiasa como base. No entanto, mesmo que a tentação de fazer um Fiat Uno alcançar médias de consumo numa faixa de até 25km/l na cidade e 29km/l na estrada a 120km/h (ou mesmo 33km/l a 80km/h) seja forte, não é tão simples quanto inicialmente pareça.

Embora o Super Diesel não tenha encontrado muitas aplicações automotivas na República das Bananas devido às restrições baseadas em capacidade de carga, passageiros ou tração, foi produzido regularmente no país até 1993 para atender principalmente a mercados de exportação como Argentina, Uruguai e até mesmo alguns países europeus onde foram comercializados modelos de fabricação brasileira baseados no Uno, como o Prêmio, a Elba e o Fiorino, além de ter servido ao uso em embarcações leves e grupos geradores, e permaneceu em produção na Argentina até o ano 2000 para uso no 147, Uno, Duna/Duna Weekend (versões locais do Prêmio e da Elba) e Fiorino, além de algumas versões do Palio destinadas ao mercado uruguaio que ainda usavam esse motor ao invés do 1.7D e do 1.7TD.

2 comentários:

  1. Então deve ser por isso que a minha mãe teve um Fiat Palio 1.0 que parecia andar como se tivesse mais motor, talvez tenham trocado o virabrequim por engano na fábrica. Um ex-vizinho meu chegou a me dizer que o motor 1.3 antigo a gasolina ainda era usado com injeção eletrônica no Palio antes de lançarem o Fire mas só para exportação, eu até cheguei a ver uns com placa do Uruguai em Florianópolis a uns 10 anos atrás.

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  2. Até cheguei a pensar em fazer essa transformação do motor de um Uno que eu tive para diesel, mas acabei desistindo depois que um mecânico que era meu vizinho me disse que não presta. Acabei comprando uma biz mas sempre que chove bate uma saudade do Uno, pena que não dá de trocar o motor pelo original a diesel legalmente.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

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