sábado, 1 de fevereiro de 2014

Caso para reflexão: hatches cargueiros

Essa é uma pauta que o Thiago já vinha defendendo desde o ano passado, após eu avistar um Gol Furgão circulando pelo Bonfa. Embora a base mecânica seja a mesma da Saveiro, que chegou a ser beneficiada com uma brecha permitindo a regularização de exemplares convertidos para Diesel da 2ª metade dos anos '80 até '93, e teoricamente o Gol Furgão também pudesse ser enquadrado no mesmo esquema, já é difícil localizar um que não tenha ido parar em pistas de arrancada, quem dirá repotenciado no Diesel. Até hoje o único Gol Furgão que eu vi rodando no Diesel foi em Pelotas.
Pois bem, não se pode negar que, apesar do volume menor que o de uma furgoneta tradicional, um hatchback de carga pode ser, de fato, uma excelente ferramenta para serviços leves em ambiente urbano, justamente em função da manobrabilidade em espaços mais contidos, menor consumo de combustível que um utilitário de maiores dimensões e, em comparação com as pick-ups compactas que se alastraram pelo mercado brasileiro, apesar da menor extensão da plataforma de carga e duma limitação da altura interna dificultarem a acomodação de alguns objetos mais volumosos, oferece uma boa proteção contra as intempéries sem depender de adaptações, um fator muito apreciável para o transporte de produtos alimentícios ou têxteis.
Enquanto na Europa Ocidental praticamente todo hatch compacto, alguns até vendidos também por aqui, oferece versões destinadas ao transporte de carga (em alguns casos modificadas por empresas independentes mas homologadas pelo fabricante para manutenção da garantia), o nosso mercado teve poucas opções. Além do Gol Furgão que se manteve no mercado até '96 ainda com a carroceria quadrada e depois até '98 sob encomenda com a carroceria "bola", apenas a Fiat ainda tem apostado nesse segmento com o Uno Furgão. O exemplar das fotos é da versão mais antiga, produzida entre '91 e 2004 com o motor Fiasa 1.5 (em versões carburadas até '97 e daí em diante com injeção eletrônica multiponto, tanto a gasolina quanto a etanol) antes da reestilização que durou até 2013, já com o motor Fire 1.3 Flex. Já até foi apresentada uma versão baseada no Novo Uno, demonstrando que ainda há motivos para apostar nesse segmento.

De vez em quando, aparecem também alguns Palios da indústria fumageira Souza Cruz configurados de forma semelhante ao Fiat Palio Espresso de especificação sul-africana, num claro indício de que há uma grande parcela do mercado aberta aos hatches. Embora a opção por motores Diesel atualmente esteja indisponível por motivos meramente burocráticos, não se pode negar que seria muito apreciada não apenas pela maior economia operacional como também por simplificar a logística de frotas ao compartilhar do mesmo tipo de combustível e insumos como óleo lubrificante com veículos de capacidade de carga mais avantajada.
Cabe lembrar, ainda, um fator que pode ter peso especialmente favorável à liberação do Diesel em hatches para o transporte de cargas leves: mesmo com a capacidade de carga inferior a 1000kg (420kg no Gol e 400kg no Uno, em compartimentos com capacidade volumétrica na faixa dos 1200 litros), ausência de tração 4X4 dual-range e capacidade para apenas 1 passageiro além do motorista (a partir de 9 passageiros, independentemente da capacidade de carga nominal, qualquer veículo pode ser homologado como microônibus), devido à própria configuração bastante austera e essencialmente voltada a usos laborais, é muito improvável que acabe por ocorrer o mesmo desvio de função que faz as pick-ups e utilitários esportivos serem cada vez mais vistos como uma alternativa legalmente apta ao Diesel em veículos de luxo. A bem da verdade, não é tecnicamente impossível modificar um veículo de transporte de cargas para passageiros, mas como demandaria alteração na classificação da espécie (de "carga" para "passageiros") do veículo no licenciamento ao contrário do que ocorre na "duplagem" da cabine de uma pick-up, já seria mais difícil regularizar um hatch cargueiro adquirido com a intenção de se usar o Diesel após converter para o transporte de passageiros (a não ser que o artista fizesse uma gambiarra de mestre que possibilitasse a classificação do veículo na espécie de "uso misto").
Convém salientar também que, mesmo nas versões convencionais para passageiros, devido ao preço de aquisição posicionar os hatches no nível de entrada do mercado automotivo, são muito usados em serviços essenciais como a manutenção de redes telefônicas. Tomando essa aplicação como referência, no caso de uma liberação ao uso do Diesel em hatches de carga, além do menor custo operacional e maior disponibilidade da frota devido aos intervalos mais espaçados entre procedimentos de manutenção preventiva dos veículos, vale lembrar que o compartimento de cargas fechado e segregado da cabine com painéis rígidos pode acabar parecendo menos convidativo ao furto de ferramentas e equipamentos por ser mais difícil arrombar uma fechadura de boa qualidade do que quebrar um vidro. Também não se pode esquecer que, com uma barreira entre a cabine e a área de carga, objetos soltos no interior do veículo representariam um menor risco em caso de acidente ou freada mais brusca que pudesse projetá-los em direção ao condutor e eventual passageiro...

12 comentários:

  1. Bom dia amigo, lembrei do teu blog ao ver esse vídeo hoje http://www.youtube.com/watch?v=mBFjHjm0O5M&feature=share

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    1. Realmente é um belo tapa na cara de quem insiste em dizer que Diesel não pode ser divertido...

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  2. Debe tener más comfort que un multicab, aun que la capacidad en volumen lo iba a ser un poco peor.

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  3. Se pudesse reutilizar o óleo das frituras em substituição ao gasóleo, um hatchback para carga seria o veículo perfeito para as entregas em minha padaria.

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  4. Depois de ver uma Fiat Strada de cabine estendida com um banco montado atrás eu não duvidaria da capacidade de se adaptar banco traseiro num hatch de carga se eles começassem a ser vendidos com motor a diesel. É só lembrar daqueles banquinhos escamoteáveis na lateral traseira da cabine na S10 e na Ranger com cabine estendida que já se tem uma solução encaminhada para quem quisesse fazer gambiarra.

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    1. Também já vi Strada de cabine estendida com banco traseiro adaptado, e a que eu vi era devidamente regularizada com laudo do Inmetro e tudo, e por incrível que pareça não ficou de todo ruim. Quanto aos jump-seats usados na Ranger e na S10, de fato poderiam ser uma boa solução, mas a ancoragem dos cintos de segurança ficaria mais complicada.

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  5. A alguns anos atrás vi uma Ford Royale com um banco a mais adaptado no bagageiro, virado de costas. Se fosse o caso de liberar o uso de motor a diesel num hatch de carga pode apostar que já ia ter malandro prendendo um banco direto na divisória da cabine para carregar a família inteira e cortando um pedaço da chapa que tampa o buraco da janela para colocar uma menorzinha só para quem vai atrás conseguir ter alguma visibilidade da rua.

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    1. Mas é certo que eu tentaria fazer uma dessas, se fosse o único jeito de ter um carro pequeno a diesel legalmente.

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  6. Já cheguei a ver Gol furgão transformado para levar passageiro.

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  7. Certo que se liberassem esses carrinhos para usar diesel ia fazer sucesso com os donos de mercadinho de bairro.

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  8. Podia montar uns bancos como o da caminhonete F85 cachorro louco dentro do compartimento de carga que ficaria perfeito, mantendo o assoalho plano para ser considerado utilitário.

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  9. Essa parte de homologação seria um problema. E tirando essas frotas de empresa que usam até o carro se acabar como faziam antes de privatizar a telefonia, eu acho que pouca gente arriscaria comprar sabendo que não seria fácil legalizar uma adaptação de banco traseiro. Faz mais sentido uma pick-up de cabine dupla.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

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