terça-feira, 2 de julho de 2019

5 motivos para preservar veículos com motor Diesel antigo

Numa época em que cada vez mais é aplicada uma obsolescência programada nos mais diversos setores da economia, não apenas por iniciativa das indústrias mas também por conta de políticas públicas que podem ter como plano de fundo justificativas de cunho supostamente ecológico ainda que nem sempre sejam tão coerentes, os veículos não escapam desse cenário. A caça às bruxas tem sido ainda mais incisiva sobre modelos com motor Diesel, sem levar em consideração eventuais vantagens que possam apresentar em uma ou mais condições específicas. Dentre os motivos para defender uma preservação de veículos com motor Diesel de tecnologia mais antiga, ao menos 5 podem ser destacados...

1 - eventuais vantagens no aproveitamento de espaço: especialmente no caso de modelos de origem asiática, como a Mitsubishi L300 que foi oferecida no Brasil durante a década de '90 e modelos mais recentes de projeto europeu hoje predominantes no mercado nacional como a atual geração do Fiat Ducato, convém destacar que outros fatores como a proteção contra impactos também exercem uma forte influência nesse aspecto. E mesmo que por esse lado pareça mais difícil justificar a escolha, por outro a proporção entre o habitáculo e o comprimento total pode ser mais atrativo para alguns operadores, principalmente se tiverem que trafegar em áreas com restrição em uma ou mais dimensões externas favorecendo a L300 em detrimento do Ducato.

2 - resiliência diante de condições ambientais e facilidade de manutenção: a menor dependência por sistemas elétricos ou eletrônicos para fazer funcionar o motor num modelo mais antigo como a Toyota Hilux das primeiras a serem importadas oficialmente para o Brasil ainda na década de '90, e que dá margem a intermináveis debates entre quem prefere a rusticidade e os que já preferem se aventurar com o gerenciamento eletrônico, também se reflete numa percepção de facilidade de manutenção por não se fazer necessário o uso de ferramentas mais sofisticadas que dificilmente se encontra fora de oficinas especializadas. Também não se tem tantas conexões elétricas que pudessem ser danificadas em contato com umidade excessiva caso não estejam bem vedadas depois de procedimentos de manutenção.
3 - adaptabilidade ao uso de combustíveis alternativos: esse ponto é muito relevante no caso das primeiras gerações de caminhonetes médias japonesas trazidas na época da reabertura das importações, cujos motores contrastavam dos utilizados nas full-size nacionais não só pela alta rotação e cilindrada relativamente baixa, mas também por recorrerem à injeção indireta hoje em desuso nos principais mercados sobretudo em função de dificuldades para conciliar ao controle de emissões. Não só na Hilux da época que o motor 3L ainda era usado mas também em concorrentes como a Mitsubishi L200 com as primeiras versões do 4D56 mantendo a injeção indireta e cujo turbo era ainda opcional e mais facilmente encontrado nas versões de cabine dupla que já atraíam a uma parte do público urbano que as apreciava como um símbolo de status. Além da ausência de dispositivos como o filtro de material particulado (DPF) facilitar o uso de biodiesel puro sem problemas com a vaporização durante uma autolimpeza forçada (ou "regeneração"), eventuais impactos na emissão de óxidos de nitrogênio (NOx) devido ao uso de um combustível fora de especificação não seriam necessariamente interpretados como uma falha quando os gases pós-combustão passem por tratamento mediante uso do sistema SCR, e a injeção indireta ainda é vantajosa no uso direto de óleos vegetais como combustível alternativo. E para quem costume trafegar por diferentes regiões, onde o óleo diesel convencional acabe tendo uma maior variabilidade em características como o teor de enxofre, motores aparentemente defasados levam vantagem por terem sido dimensionados para suportar teores mais elevados que eram o padrão na época em que foram desenvolvidos. E em modelos fabricados antes de '97, também é viável fazer a suplementação com gás natural, tendo em vista que no Brasil não é exigido o gerenciamento eletrônico para kits GNV produzidos até esse período, enquanto que entre '97 e 2005 a prevalência da injeção 100% mecânica em motores Diesel poderia dificultar essa opção.


4 - viabilidade de upgrades técnicos e enquadramento em normas de emissões atuais: para quem eventualmente dê uma importância maior para as normas de emissões atuais, nem sempre um motor "velho" seria ou tecnicamente impossível de ser enquadrado (ainda que sacrificando algumas características originais) ou então substituído por um mais moderno. No caso da L200, em alguns países o motor 4D56 se manteve por diferentes gerações, ainda que a penúltima em alguns países já o tivesse modernizado com características como cabeçote de 16 válvulas, injeção direta do tipo common-rail gerenciada eletronicamente e sempre com turbo e intercooler, apesar de que no Brasil tenha sido usado o 4M41. A geração atual passou a usar em mercados com maior nível de exigência no controle de emissões o motor 4N15, como no Brasil e na Europa, embora em outras regiões seja usado ainda o 4D56 como em alguns países da África e do Oriente Médio. Naturalmente, apesar de alguns recursos eventualmente não terem sido aplicados nas versões modernizadas de diferentes motores em todos os mercados devido às diferentes regulamentações ambientais eventualmente não os exigirem, é possível ou recorrer à importação independente de alguns componentes ou tentar estratégias alternativas. Como uma opção eventualmente menos problemática que o SCR ou o DPF, por exemplo, não seria difícil recorrer à injeção de água normalmente acrescentada de algum álcool para facilitar a vaporização no coletor de admissão, valendo-se do maior resfriamento da massa de ar aumentando a concentração de oxigênio e permitindo uma combustão mais completa do óleo diesel ou de substitutivos, reduzindo significativamente tanto as emissões de NOx quanto a formação de material particulado. A predominância cada vez maior do ar condicionado ainda dá a entender que possa ser útil reaproveitar a água residual que esse equipamento retira do habitáculo, e a disponibilidade mais fácil do etanol em comparação a outros álcoois como o metanol já pode atender aos objetivos de facilitar a vaporização no coletor de admissão e prevenir o congelamento da água em temperaturas ambientes baixas.

5 - valor histórico para observar a evolução tecnológica: um fator mais subjetivo, tendo em vista as diferentes preferências entre modelos antigos e modernos, mas a comparação entre diferentes gerações de um mesmo modelo como o Toyota Land Cruiser Prado desde o J90 até o atual J150 já dá uma indicação do quanto o predomínio de algumas características técnicas distintas foi fundamental para assegurar a continuidade dos motores Diesel em alguns dos principais mercados. No caso específico do Land Cruiser Prado, mesmo que a injeção indireta já não tenha um volume de vendas tão significativo como na época do J90 que nas versões Diesel mais sofisticadas fazia uso do motor 1KZ-TE equipado com turbo e um gerenciamento eletrônico mais rudimentar comparado aos motores 1KD-FTV e 1GD-FTV dotados de turbo e injeção common-rail que hoje são os principais oferecidos no J150, o simples fato de ainda ser disponibilizado em localidades sem tanto rigor no controle de emissões o motor 5L-E com injeção indireta e aspiração natural pode até ofuscar um pouco essa percepção da importância que um "pau véio" possa ter para destacar a evolução mas não serve de pretexto para negá-la.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html