terça-feira, 8 de setembro de 2020

5 carros antigos que desafiam as definições arbitrárias de "utilitário" em vigor no Brasil

As restrições ao uso de motores Diesel no Brasil, que tomam por referência uma capacidade de carga igual ou superior a uma tonelada ou acomodação para 9 ou mais passageiros além do motorista, ou veículos com tração 4X4 dotada de caixa de transferência de dupla velocidade (também conhecida por "reduzida") independentemente das capacidades de carga e passageiros, já não são novidade. E por mais que existam uma série de exemplos que evidenciam a estupidez de se manter tais restrições, qualquer perspectiva de mudança nesse cenário permanece distante. Mas vale mencionar ao menos 5 carros antigos que desafiam ou em algum momento desafiaram as definições arbitrárias de "utilitário" em vigor no Brasil e poderiam ser muito bem servidos por um motor Diesel em caso de adaptações.

1 - Mercury Eight Town Sedan de 2ª geração: um modelo improvável, mas sendo derivado do Ford "full-size" de 1941 tinha a mesma base dos modelos amplamente usados por produtores do whisky de milho conhecido como "moonshine" que era muito consumido nos Estados Unidos na época da Lei Seca. Apesar da tampa do porta-malas não ser tão ampla quanto numa station-wagon, inegavelmente o volume interno do sedan com 4 portas também poderia credenciá-lo como um "utilitário". Também é interessante observar que muitos pilotos da época inicial do que viria a se tornar a NASCAR tinham um background no transporte do "moonshine" em modelos dessa mesma plataforma modificados com feixes de mola mais reforçados somente para manter a altura nivelada enquanto estivessem com um excesso de peso de modo a não chamar a atenção da polícia. Já considerando o cenário brasileiro, quando a partir da eclosão das primeiras crises do petróleo na década de '70 os carrões americanos com motor V8 sofreram uma forte rejeição e a cultura do carro antigo não estava tão desenvolvida, não teria sido de se estranhar que alguns exemplares pudessem ter se tornado alvo de experiências com adaptação de motores Diesel como se fazia no Uruguai, em que pese no país vizinho ter sido mais comum encontrar motores europeus e japoneses de alta rotação muito mais leves que um MWM D-229-3 ou D-229-4 nacional;

2 - Volkswagen 1600 Variant (Typ 3): compartilhando a concepção mecânica básica do Fusca numa carroceria mais versátil, destacando-se a capacidade volumétrica de carga, também era favorecida por uma concentração de peso mais próxima ao eixo motriz em diferentes condições de carga mantendo a trafegabilidade em trechos onde muito utilitário com tração 4X4 passa aperto. Deve-se destacar no entanto alguma dificuldade para acomodar outros motores no caso de uma adaptação, tendo em vista que a configuração original com motor boxer permite montar o assoalho do bagageiro traseiro mais para baixo de um jeito que seria difícil replicar com um motor em linha que não pudesse ser montado em posição horizontal;

3 - Renault Colorale: mais direcionado aos mercados coloniais e rurais, aos quais o próprio nome do modelo faz alusão, o modelo produzido de '50 a '57 costuma suscitar dúvidas quanto à classificação como station-wagon ou como um precursor dos SUVs. Tendo contado inicialmente com um motor de 2.2L e válvulas laterais e posteriormente um de 2.0L já com as válvulas no cabeçote, ambos movidos a gasolina e servidos por um câmbio manual de 3 marchas e tração traseira, tinha uma concepção mais modesta e essencialmente voltada aos aspectos práticos de acordo com o que se esperava de um veículo utilitário;

4 - Ford Belina/Scala: a station-wagon derivada do Corcel, à medida que foi desvalorizando, passou a ser muito procurada para uso em serviços pesados. Não é incomum se deparar com uma Belina que esteja carregada com ferramentas e materiais diversos, sendo um dos modelos mais estereotipados como "carro de pedreiro" nos dias de hoje, e as condições severas enfrentadas nesse tipo de serviço é um dos motivos pelos quais já não é mais tão comum ver uma Belina ou uma Scala em bom estado de conservação. Houve até versões 4X4, das quais uma parte considerável dos exemplares produzidos tiveram alguns problemas exatamente no sistema de tração suplementar e são extremamente raras. Vale lembrar também que durante a operação conjunta de Ford e Volkswagen entre '86 e '96 no Brasil sob a denominação AutoLatina a Belina/Scala contou por algum tempo com motores Volkswagen, mas não chegou a contar com o 1.6D nem para exportação. No caso das versões 4X4, o fato de terem contado somente com o motor CHT de 1.6L tanto em versões a gasolina quanto etanol também é digno de nota, embora pudesse ter sido esperado algum interesse em aproveitar a tração para tentar homologar versões Diesel à época;

5 - Gurgel Carajás: o jipão produzido de '84 a '95 que foi o primeiro modelo da marca a usar motor dianteiro, no caso o Volkswagen EA827 "AP" em versões de 1.8L a gasolina ou etanol e 1.6L Diesel, tinha tração simples traseira e capacidade de carga nominal homologada em 750kg e 5 lugares, o que teoricamente não o credenciaria à homologação como utilitário. Embora o fato de manter o câmbio montado na parte traseira não fizesse milagre na tentativa de manter a distribuição de peso favorável à trafegabilidade em terrenos mais severos, e o sistema Selectraction de frenagem seletiva individual nas rodas traseiras para emular o efeito de um bloqueio de diferencial também não compensasse a ausência da tração 4X4 em situações mais extremas, pode-se considerar um bom precedente para que o direito de se usar motores Diesel fosse estendido aos soft-roaders de hoje ou até alguns hatches com pretensões aventureiras...

Um comentário:

  1. o que mais me impressiona e a beleza desses carros mais antigos muito lindos essas relíquias.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html