quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Alternativas ao trigo: possível contraponto a alegações de que os biocombustíveis causariam problemas à produção de alimentos

À medida que tem aumentado a oferta de substitutivos à farinha de trigo, destinados principalmente aos celíacos mas também atraindo consumidores que buscam por produtos considerados mais saudáveis ou adequados a dietas específicas para atletas que ganharam popularidade com o segmento fitness, surge o questionamento em torno de como uma eventual expansão na disponibilidade e uso regular de farinhas produzidas a partir de cultivares mais facilmente adaptáveis às fronteiras agrícolas brasileiras ao invés do trigo majoritariamente importado do Canadá e da Argentina possa impactar positivamente até sobre a imagem negativa frequentemente associada à produção de biocombustíveis como uma competição na demanda por terras agricultáveis para a produção de alimentos. Desde o trigo sarraceno que no Brasil é mais produzido no Paraná devido à presença polonesa mas cuja produção tem mais espaço no mercado externo, até o inhame que é muito apreciado em Pernambuco, fatores como uma maior adaptabilidade a solos com diferentes características físico-químicas inadequadas ao cultivo do trigo e uso menos intenso de agroquímicos tornam até certo ponto surpreendente uma eventual desconfiança com relação a outras opções. E ainda que o custo permaneça relativamente elevado em comparação à farinha de trigo não só pela escala de produção menor, mas também pelas precauções tomadas na produção visando eliminar o risco de contaminação cruzada com o glúten, não se pode esquecer do impacto financeiro de subsídios à importação do trigo e aos riscos que a logística pode impor durante tempos mais beligerantes.

Outro aspecto digno de nota é a fixação do nitrogênio, frequentemente associada a leguminosas como o feijão mais consumido quase que exclusivamente em grão e raízes tuberosas como a mandioquinha ou a batata-doce que já estão ficando mais comuns em alternativas ao pão de queijo nas dietas sem lactose e que também podem atender satisfatoriamente a uma eventual substituição do trigo num aspecto não tão restrito às alergias e intolerâncias a determinados ingredientes ou alguma eventual motivação filosófica e/ou religiosa como é o caso de adeptos do veganismo. Algum cultivar que proporcione uma fixação do nitrogênio no solo mais intensa é muito recomendado nas rotações de cultura, e portanto favorecendo a produtividade do que venha a ser plantado posteriormente tanto para fins alimentícios quanto para o uso como matéria-prima na produção de etanol ou biodiesel por exemplo, lembrando também que algumas partes que não tenham aplicação culinária numa planta podem no entanto ser um bom substrato para o etanol celulósico quando não for viável a transformação em feno para o gado e no caso de uma criação intensiva a conversão de dejetos dos animais em biogás/biometano e fertilizante agrícola também pode ser considerada. Por mais que um celíaco ou um diabético ao optarem por usar farinha de feijão branco em substituição à farinha de trigo (lembrando que a faseolamina contida no feijão branco pode auxiliar no controle da glicemia) e os produtores eventualmente nem se dêem conta, uma série de benefícios que não se restringem à qualidade da alimentação e abrangendo também a provisão de matérias-primas para a produção de biocombustíveis poderiam ser alcançados no país caso houvesse um fomento à produção nacional de cultivares alternativos ao trigo importado.
Ainda que permaneça difícil criar expectativas de encontrar um maior uso de alternativas à farinha de trigo em escala comercial mesmo naquelas padarias pequenas de bairro, lembrando ainda que em Santa Catarina é bastante comum o popular "pão francês" ser referido simplesmente como "pão de trigo", não se pode ignorar eventuais benefícios econômicos, sociais e até ambientais que possam ser gerados caso o grande público dê uma maior importância à produção alimentícia regional sem precisar eclodir uma guerra como na época que fortaleceu-se no Brasil uma industrialização mais baseada na substituição de importações. Depender de fornecedores externos com suas próprias instabilidades políticas para suprir o principal ingrediente de um alimento tão básico a ponto de estar presente tanto na alimentação dos ricos quanto dos pobres é algo mais questionável no tocante à segurança alimentar até mesmo que eventuais impactos da dependência pela cana de açúcar na produção do etanol ou da soja para o biodiesel, além do mais que o custo torna-se extremamente suscetível às oscilações cambiais por estar atrelado ao dólar. Enfim, além de uma logística a nível regional que pode ser simplificada e a eventual redução do uso de defensivos agrícolas e fertilizantes químicos de acordo com os cultivares que melhor se ajustem a cada localidade onde venham a ser implementados, um eventual incremento na demanda por alternativas ao trigo que as façam ganhar competitividade no tocante ao preço ao consumidor final resultariam ainda em outros benefícios, contrariando também alegações de que os biocombustíveis "causam fome".

3 comentários:

  1. Já comi uns pães feitos sem trigo, e até que ficaram bons. É mesmo uma pena que não se veja tanto para vender como poderia ter.

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  2. Qual modelo caberia numa saveiro 1985

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    Respostas
    1. Motor para adaptar na Saveiro? Com o 1.6D antigo já ficando mais difícil de encontrar, pode ser bom o 1.9 tanto SDI quanto TDI. O maior problema, além de não ter mais algum jeito fácil de legalizar a adaptação, é o preço do motor.

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