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Toyota Prius: possível produção nacional até 2017 |
É importante frisar que todos os processos envolvidos na produção da bancada de baterias tracionárias de um veículo híbrido, desde a extração mineral mais intensa destinada à obtenção de matérias-primas para os eletrólitos até a montagem final das baterias, já são suficientes para fazer com que o "footprint" do automóvel híbrido ao sair da fábrica seja maior que o de um modelo de mesma classe equipado com motor do ciclo Diesel. Mesmo no caso de se usar materiais reciclados para produzir as baterias, o reprocessamento de alguns eletrólitos requer protocolos de segurança extremamente rigorosos que também encarecem e incrementam o uso de recursos energéticos. Considerando ainda a quantidade de componentes que venham a necessitar de substituição ao longo da vida útil estimada do veículo, o Diesel também leva vantagem por dispensar o sistema de ignição elétrica, e pela maior durabilidade do motor prolongar os intervalos entre procedimentos mais complexos como uma retífica...
A bem da verdade, o Diesel oferece uma relação custo/benefício mais imediata não apenas em modelos de maior valor agregado e porte mais avantajado como uma Toyota Hilux, mostrando-se uma alternativa coerente também em veículos leves com uma proposta mais "popular" como o Toyota Etios. Ainda que o custo de aquisição também seja superior em comparação a um similar equipado apenas com motor de ignição por faísca, nesse aspecto o Diesel ainda leva vantagem em comparação ao sistema híbrido que poderia vir a ser aplicado em conjunto a um motor de ignição por faísca...
Embora a atual geração de dispositivos de controle de emissões sirva de pretexto para polêmicas em torno da respectiva adaptabilidade a plataformas tão distintas quanto a de uma caminhonete com chassi separado da carroceria e um compacto de estrutura monobloco, ainda geram menos comprometimento das capacidades de carga em comparação com o espaço a ser comprometido pela instalação da bancada de baterias tracionárias, módulos de controle específicos de um sistema híbrido e do chicote elétrico de alta tensão dedicado ao sistema de tração elétrica auxiliar.
O custo adicional representado apenas pelo sistema híbrido é, portanto,
amortizado mais rapidamente em modelos que acabam tendo aspirações em
segmentos de maior prestígio, o que nessa república de bananas acaba
abrangendo até o Toyota Prius, que embora a nível mundial seja
praticamente um "Fusca dos híbridos", por aqui chega ao mesmo patamar de preços de veículos de segmento superior como o Mercedes-Benz Classe C.
Outro aspecto a ser considerado é a questão da adaptabilidade a combustíveis alternativos e eventuais efeitos sobre o desempenho dos veículos: enquanto nos híbridos de ignição por faísca as alternativas mais viáveis são o etanol, cuja produção brasileira é muito dependente de uma única matéria-prima que é a cana-de-açúcar apesar de uma participação crescente do etanol de milho no Mato Grosso durante a entressafra da cana, e o gás natural cuja distribuição ainda não atende o país inteiro como acontece com os principais combustíveis líquidos, o ciclo Diesel também pode operar perfeitamente com etanol (apesar do maior volume consumido devido à menor densidade energética), óleos vegetais brutos, biodiesel e, havendo algum combustível líquido que sofra a ignição por compressão, é possível até misturar combustíveis gasosos que normalmente dependem de uma centelha para que ocorra o processo de combustão. Uma disponibilidade de combustíveis provenientes de matérias-primas adequadas às diferentes realidades regionais do país acabaria por reduzir significativamente a dependência na rede de refinarias da Petrobras e as despesas com o frete que também tornam o combustível muito mais caro em algumas regiões. Cabe mencionar ainda a possibilidade de gerar outra alternativa de emprego e renda a localidades cuja economia hoje é muito dependente da indústria fumageira. Levando em consideração a filosofia que norteou o trabalho do Dr. Rudolf Diesel, com um maior fomento aos biocombustíveis, além de agregar valor à atividade agropastoril, o produtor rural teria acesso mais fácil a uma independência energética, podendo até reduzir o custo da produção e processos logísticos de gêneros alimentícios, benefício que também seria usufruído pela população urbana.
O cenário mais provável que poderia ocorrer com uma institucionalização da preferência pelos híbridos seria um fenômeno semelhante ao que aconteceu no Equador em função da tributação diferenciada para os híbridos: por lá, modelos como o Ford Fusion de 1ª geração passaram a ser oferecidos exclusivamente nas versões híbridas. Lembrando que gato escaldado tem medo de água fria, e conhecendo bem o cenário político brasileiro, o povo ficaria refém de mais alguma eventual taxa a ser embutida no preço dos combustíveis e/ou do licenciamento anual de veículos não-híbridos que acabaria por "socializar" a conta referente à renúncia fiscal relativa aos híbridos e, assim, garantir que a vaca leiteira da corrupção continue engordando.
Muito já se debateu sobre o desvio do propósito original das limitações ao uso do Diesel relativas às capacidades de carga, passageiros e tração após a introdução de veículos de luxo que se enquadram numa definição extremamente subjetiva de "utilitário", como o Mercedes-Benz Classe M e o Land Rover Range Rover Sport, mas na prática um favorecimento aos híbridos também acaba gerando esse efeito, ao considerarmos a realidade do mercado brasileiro, com o maior volume de vendas concentrado em hatches compactos, onde qualquer coisinha que seja acrescentada já eleva o preço numa proporção maior da que seria sentida em segmentos mais nobres.