A exigência de tração 4X4 para que veículos com capacidade de carga inferior a 1000kg e acomodação para menos de 9 passageiros (além do motorista) fossem juridicamente aptos ao uso de óleo diesel como combustível no Brasil remonta a uma época em que o Jeep Willys e o Toyota Bandeirante praticamente monopolizavam o segmento, com escassa concorrência vinda principalmente da extinta Engesa. A normativa da época, baseada em Requisitos Operacionais Básicos definidos pelo Exército Brasileiro, especificava também que a caixa de transferência deveria ser de dupla velocidade, recurso popularmente conhecido como "reduzida" e usado no Jeep, ou então que a 1ª marcha tivesse uma relação mais curta caso a caixa de transferência fosse de velocidade simples como foi usado pela maior parte do tempo em que o Toyota Bandeirante ficou em produção.
O privilégio conferido aos 4X4, porém, já se mostrava errado desde o primeiro dia. Vale lembrar o caso dos utilitários Gurgel que, com motor e tração traseiros a exemplo do modesto Fusca, apresentavam capacidade de incursão fora-de-estrada de causar inveja até mesmo a uma parte considerável da atual geração de SUVs compactos. O uso de um freio manual seletivo que acionava individualmente as rodas traseiras, denominado Selectraction, emulava o efeito de um bloqueio de diferencial a um custo mais acessível e com menor complexidade técnica. Seguramente o porte compacto e a carroceria de fibra de vidro montada ao redor de um chassi tubular favorecia a economia de combustível em comparação com o Jeep Willys e o Toyota Bandeirante, mas o layout de transmissão mais simples e leve também se reflete devido à menor quantidade de atritos internos.
Não custa recordar que o sucesso dos pequenos Gurgel levou a Ford a encerrar a fabricação do Jeep CJ-5 no Brasil em 1983. Mesmo a tradição remontando aos dias da II Guerra Mundial já não era suficiente para compensar a falta de competitividade diante da leveza e menor custo operacional dos Gurgel, nem para fazer frente à oferta de motores Mercedes-Benz Diesel usados no Bandeirante até a introdução do motor Toyota 14B em '94, quando a Gurgel sufocada pela concorrência com SUVs importados já se encaminhava para a falência. Enquanto isso, a Toyota seguiu com o Bandeirante até 2001, quando sob a alegação de um recrudescimento nas normas de emissões optou por simplesmente encerrar a produção do modelo.
Enfim, por mais que alguns críticos insistam em propagar que uma liberação do Diesel para veículos leves no mercado brasileiro seria prejudicial à disponibilidade de combustível para aplicações comerciais, quem tem bala na agulha para adquirir um veículo de luxo e não se dispõe a abrir mão do Diesel se vê forçado a partir para um "Chelsea tractor" como o Land Rover Range Rover Vogue, mesmo que dificilmente vá explorar toda a aptidão do modelo a situações off-road e pudesse ser atendido por um sedan ou uma station-wagon mais leves, aerodinâmicos e eficientes. Nesse meio-tempo, há quem tire leite de pedra com veículos 4X2 como a Fiat Palio Weekend Adventure Locker mas se veja impedido de recorrer ao Diesel devido a entraves burocráticos. Logo, pode-se deduzir que a exigência de tração 4X4 com reduzida (ou algum recurso análogo) para que veículos com capacidade de carga inferior a 1000kg e acomodações para menos de 9 passageiros além do motorista possam ser oferecidos com motor Diesel é uma incoerente estupidez.
Se as madames querem só se mostrar com um carro mais altinho que cabe bastante sacola das compras bem que podiam liberar de vez o motor a diesel. Já é difícil ver caminhonete a diesel sendo usada para trabalho mesmo, até para consertar trator na lavoura eu vejo usarem mais aquela pequenininha da Fiat.
ResponderExcluirVejo muito desses jipinhos em estacionamentoi de shopping e de supermercado, sempre limpinhos como se nunca tivesse caído nem uma folha seca de goiabeira em cima. Se é assim para quê 4x4 mesmo?
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