terça-feira, 3 de novembro de 2015

Uma reflexão sobre os SUVs e a tração 4X4 como precondição para o direito ao uso de motores Diesel

Os veículos utilitários esportivos, também conhecidos pela sigla SUV, do inglês sport-utility vehicle, se tornaram um sonho de consumo da classe média urbana brasileira nas últimas décadas. Em que pese o fato de modelos como o Suzuki Grand Vitara e o SsangYong Korando terem um maior conforto de rodagem em pavimentos irregulares em comparação com automóveis mais convencionais, outro atrativo é a disponibilidade de motores Diesel em função da tração 4X4, mesmo que na prática muitos proprietários nem sequer façam uso desse recurso em situações fora-de-estrada.


Um segmento que sofre forte concorrência é o das minivans, e a versatilidade passou a disputar a atenção do mercado com a imagem pretensamente "aventureira" dos SUVs cada vez mais direcionados a um público urbano ávido por fugir dos estereótipos de "carro de mãe" associados às minivans. Assim, surgiram os "crossovers", como o Chrysler Pacifica, que compartilhava a plataforma com as minivans Dodge/Chrysler Caravan/Voyager/Town&Country mas não só tinha menos espaço interno como também era desfavorecida pelo consumo de combustível mais elevado. Embora nunca tenha sido oferecida com motores Diesel nem para mercados de exportação como ocorria com as minivans, e tenha um design agradável, o Chrysler Pacifica demonstra claramente o equívoco que é privilegiar uma configuração menos eficiente.

O porte mais avantajado dos utilitários, principalmente no tocante à altura, desfavorece a aerodinâmica e por conseguinte influencia negativamente na economia de combustível, o que por si só já é suficiente para apontar a incoerência em se restringir o uso do Diesel com base em capacidades de carga, passageiros, ou sistema de tração como é o caso dos SUVs. E considerando o perfil de uma parte significativa do público-alvo dessa categoria no mercado brasileiro, a tração 4X4 nem sempre é aproveitada como seria de se esperar, tornando-se na prática um peso morto e fonte de atritos que desfavorecem a eficiência energética, além de aumentar o custo de manutenção do veículo. Por mais que a tração 4X4 full-time, usada em modelos de concepção mais moderna como o Jeep Renegade e o Range Rover Evoque, até proporcione uma melhoria na segurança em algumas condições de rodagem extremas como pisos escorregadios e altas velocidades, ainda é conveniente avaliar a real necessidade desse recurso, não apenas devido ao impacto sobre o consumo de combustível mas também para que o argumento da segurança não sirva como um pretexto para abusos.

A exigência de tração 4X4 para que veículos com capacidade de carga inferior a 1000kg e acomodação para menos de 9 passageiros (além do motorista) fossem juridicamente aptos ao uso de óleo diesel como combustível no Brasil remonta a uma época em que o Jeep Willys e o Toyota Bandeirante praticamente monopolizavam o segmento, com escassa concorrência vinda principalmente da extinta Engesa. A normativa da época, baseada em Requisitos Operacionais Básicos definidos pelo Exército Brasileiro, especificava também que a caixa de transferência deveria ser de dupla velocidade, recurso popularmente conhecido como "reduzida" e usado no Jeep, ou então que a 1ª marcha tivesse uma relação mais curta caso a caixa de transferência fosse de velocidade simples como foi usado pela maior parte do tempo em que o Toyota Bandeirante ficou em produção.
O principal beneficiado pelas restrições ao uso em veículos leves foi, sem dúvida nenhuma, o Toyota Bandeirante, visto que permaneceu como o único jipe de fabricação nacional a oferecer motor Diesel durante a década de 70, após a pouca aceitação do motor Perkins 4.203 oferecido como opcional na Rural na década de 60 ter desencorajado a Willys-Overland e posteriormente a Ford a oferecerem essa opção mesmo durante os choques do petróleo em '73 após a derrota humilhante sofrida pela coalizão árabe na Guerra do Yom Kippur e em '79 quando ocorreu a "revolução islâmica" iraniana.

O privilégio conferido aos 4X4, porém, já se mostrava errado desde o primeiro dia. Vale lembrar o caso dos utilitários Gurgel que, com motor e tração traseiros a exemplo do modesto Fusca, apresentavam capacidade de incursão fora-de-estrada de causar inveja até mesmo a uma parte considerável da atual geração de SUVs compactos. O uso de um freio manual seletivo que acionava individualmente as rodas traseiras, denominado Selectraction, emulava o efeito de um bloqueio de diferencial a um custo mais acessível e com menor complexidade técnica. Seguramente o porte compacto e a carroceria de fibra de vidro montada ao redor de um chassi tubular favorecia a economia de combustível em comparação com o Jeep Willys e o Toyota Bandeirante, mas o layout de transmissão mais simples e leve também se reflete devido à menor quantidade de atritos internos.


Não custa recordar que o sucesso dos pequenos Gurgel levou a Ford a encerrar a fabricação do Jeep CJ-5 no Brasil em 1983. Mesmo a tradição remontando aos dias da II Guerra Mundial já não era suficiente para compensar a falta de competitividade diante da leveza e menor custo operacional dos Gurgel, nem para fazer frente à oferta de motores Mercedes-Benz Diesel usados no Bandeirante até a introdução do motor Toyota 14B em '94, quando a Gurgel sufocada pela concorrência com SUVs importados já se encaminhava para a falência. Enquanto isso, a Toyota seguiu com o Bandeirante até 2001, quando sob a alegação de um recrudescimento nas normas de emissões optou por simplesmente encerrar a produção do modelo.

Enfim, por mais que alguns críticos insistam em propagar que uma liberação do Diesel para veículos leves no mercado brasileiro seria prejudicial à disponibilidade de combustível para aplicações comerciais, quem tem bala na agulha para adquirir um veículo de luxo e não se dispõe a abrir mão do Diesel se vê forçado a partir para um "Chelsea tractor" como o Land Rover Range Rover Vogue, mesmo que dificilmente vá explorar toda a aptidão do modelo a situações off-road e pudesse ser atendido por um sedan ou uma station-wagon mais leves, aerodinâmicos e eficientes. Nesse meio-tempo, há quem tire leite de pedra com veículos 4X2 como a Fiat Palio Weekend Adventure Locker mas se veja impedido de recorrer ao Diesel devido a entraves burocráticos. Logo, pode-se deduzir que a exigência de tração 4X4 com reduzida (ou algum recurso análogo) para que veículos com capacidade de carga inferior a 1000kg e acomodações para menos de 9 passageiros além do motorista possam ser oferecidos com motor Diesel é uma incoerente estupidez.

2 comentários:

  1. Se as madames querem só se mostrar com um carro mais altinho que cabe bastante sacola das compras bem que podiam liberar de vez o motor a diesel. Já é difícil ver caminhonete a diesel sendo usada para trabalho mesmo, até para consertar trator na lavoura eu vejo usarem mais aquela pequenininha da Fiat.

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  2. Vejo muito desses jipinhos em estacionamentoi de shopping e de supermercado, sempre limpinhos como se nunca tivesse caído nem uma folha seca de goiabeira em cima. Se é assim para quê 4x4 mesmo?

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html