Um lugar para os malucos por motores do ciclo Diesel compartilharem experiências. A favor da liberação do Diesel em veículos leves no mercado brasileiro, e de uma oferta mais ampla de biocombustíveis no varejo.
quarta-feira, 25 de maio de 2016
Pistões opostos: uma configuração consagrada em aplicações aeronáuticas, marítimas e ferroviárias ressurge em meio a normas de emissões mais rígidas e metas de redução do consumo de combustíveis
Outra configuração amplamente usada foi a disposição horizontal dos cilindros, como no motor Rootes TS3, também conhecido como Rootes-Lister TS3 em versões estacionárias/industriais e marítimas ou Commer TS3 quando aplicado aos caminhões e ônibus Commer. O famoso "Commer knocker" de 3 cilindros horizontais em linha dispunha de um único virabrequim, centralizado como nos motores "boxer" de cilindros opostos, valendo-se de balancins para transferir o ângulo do curso dos pistões em 180° em direção aos centros dos cilindros, que eram compartilhados por pares de pistões. A altura total do conjunto ficava maior que num motor "boxer", mas ainda menor em comparação a um motor de configuração mais tradicional e cilindros verticais, e portanto o TS3 se mostrava perfeitamente adequado à primeira geração de caminhões com cabine avançada que o Rootes Group se preparava para apresentar através da Commer. Por mais que o uso de um balancim e um par de bielas (uma do virabrequim ao balancim e outra do balancim ao pistão) para cada pistão acabasse por aumentar a quantidade total de peças móveis em comparação a um motor de 2 virabrequins, ainda era consideravelmente menor que num motor de configuração mais convencional com válvulas no cabeçote.
A ausência de cabeçotes propriamente ditos evidencia outras vantagens para um motor de pistões opostos, desde a eliminação das juntas de cabeçote que são sujeitas a altas pressões até a menor superfície para dissipação de energia liberada na forma de calor pelo processo de combustão, de tal forma que uma quantidade menor de combustível possa ser usada sem sacrificar o desempenho. A maior proporção do curso total do par de pistões em relação ao diâmetro também se reflete positivamente na eficiência geral, enquanto o controle mais preciso da abertura e fechamento das janelas de admissão e escape também promove um controle mais preciso do processo de combustão sem ter de recorrer a válvulas e o complexo mecanismo de acionamento inerente às mesmas. Em média, um motor Diesel 2-tempos de pistões opostos alcança uma eficiência térmica 30% superior à de um 4-tempos tradicional numa faixa de potência e torque comparável.
Já é notório que um dos principais motivos para que os motores Diesel 2-tempos fossem relegados à obsolescência nas aplicações rodoviárias foi a questão da emissão de material particulado, agravada em parte pelo consumo de óleo lubrificante que acabava por escapar através das janelas de admissão nas camisas de cilindro e a não-observância por parte de alguns operadores da recomendação de se usar apenas óleo com baixo teor de cinzas num motor Diesel 2-tempos. Hoje, porém, alguns avanços já aplicados aos motores Diesel 4-tempos de gerações mais recentes como o filtro de material particulado (DPF) e sistemas de injeção de alta pressão são mais eficazes no controle dessas emissões, ao passo que a maioria dos lubrificantes recomendados para motores modernos também apresentam baixo teor de cinzas justamente para preservar a longevidade do DPF.
Outro motivo para o abandono dos motores Diesel 2-tempos, mas que não teve a mesma repercussão da questão do material particulado, era a temperatura menor dos gases de escape em comparação a um 4-tempos, que por sua vez diminuía a eficiência dos conversores catalíticos (catalisadores) mais primitivos que se mostravam mais eficientes a temperaturas mais elevadas. A necessidade de um compressor mecânico para gerar a pressão de admissão, podendo ser tanto um compressor a pistão como usado em alguns motores alemães quanto um compressor centrífugo do tipo Roots (vulgo "blower") mais usado nos motores britânicos, americanos e japoneses, acabava por facilitar a fuga de uma parte do ar fresco pressurizado durante a admissão e acabava por diluir o calor contido nos gases de escape que eram "lavados" para fora dos cilindros. O que antes era percebido como uma desvantagem, no entanto, passa a ser visto mais favoravelmente diante da maior pressão para que se reduzam as emissões de óxidos de nitrogênio (NOx), gases-estufa com uma meia-vida mais longa que a do dióxido de carbono (CO²) e cuja formação é diretamente proporcional ao aumento de temperatura dos processos de combustão.
Além das vantagens inerentes ao processo de combustão e à redução de peso em comparação a motores com outras configurações, a adoção de motores Diesel 2-tempos com pistões opostos traz outros benefícios para a eficiência geral dos veículos aos quais venham a ser aplicados. A menor dissipação de calor também viabiliza o uso de um sistema de refrigeração mais compacto, que por sua vez pode refletir na aerodinâmica mediante uso de tomadas de ventilação menores e que geram menos arrasto bem como proporcionar mais liberdade para que o desenho da carroceria incorpore linhas mais fluidas, o que contribui para uma maior eficiência no tráfego rodoviário com médias de velocidade mais elevadas. Indo um pouco mais longe, tais fatores somados podem servir também para minimizar o impacto que uma eventual ampliação do uso de biocombustíveis como o etanol, biodiesel e óleos vegetais naturais venham a ter sobre a expansão das fronteiras agrícolas e os custos dos alimentos.
Ao menos uma startup, a americana Achates Power, tem apostado num conceito de motor Diesel 2-tempos com pistões opostos prático o suficiente para ser incorporado a veículos de produção em série num futuro próximo. Já foi desenvolvido ao menos um motor economicamente viável, de 3 cilindros verticais com cilindrada de 4.9L capaz de proporcionar um desempenho semelhante ao de motores de 5 a 6 cilindros na faixa de cilindrada entre 9 e 10 litros atualmente usados em muitos caminhões e ônibus mundo afora. Pode parecer uma previsão muito otimista, mas a empresa já planeja que em 2017 o motor Achates esteja no mercado, e a recente parceria com a tradicional fabricante de motores estacionários/industriais e marítimos pesados Fairbanks Morse leva a crer que a iniciativa seja plausível. Cabe lembrar que a Fairbanks Morse já produz desde 1938 uma série de motores Diesel-2-tempos de pistões opostos famosa por ter equipados desde embarcações militares até grupos geradores industriais e ainda ser usado como backup na atual geração de submarinos nucleares, mais especificamente o motor Fairbanks Morse Model 38 8-1/8 cujo projeto básico se mantém praticamente inalterado desde o início.
Enfim, por mais que escândalos como o Dieselgate tenham acirrado alguns ânimos e fomentado velhas desconfianças no tocante a estratégias de controle de emissões, um olhar lançado a algo que parecia relegado ao passado mostra que o Diesel está mais longe do ostracismo do que tentam fazer parecer alguns "ecologistas-melancia" e outros tantos covardes de plantão que preferem entregar de bandeja para a máfia petroleira árabe-socialista o controle sobre a segurança energética a nível mundial.
7 comentários:
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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.
It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.
Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html
Já vi um motor desse tipo em operação num caminhão Commer de um colecionador neozelandês. É impressionante como na Oceania esse motor TS3 ainda tem adoradores.
ResponderExcluirMas é até justificável essa "adoração" pelo TS3. Mesmo com a tecnologia modesta que havia na década de 50, ainda se destaca pela eficiência e pelas emissões relativamente baixas apesar do problema dos particulados e hidrocarbonetos que ainda pode ser resolvido.
ExcluirSe a turma já implicava com os Detroit Diesel só por ser 2T, esses motores de pistão oposto provavelmente fossem acabar micando por aqui.
ResponderExcluirÉ possível que enfrentassem uma maior oposição no segmento rodoviário, mas para aplicações náuticas e estacionárias/industriais a rejeição ainda seria menor.
ExcluirAinda tem alguns barcos de pesca argentinos com esse motor. Nem mesmo a Guerra das Malvinas fez trocarem por motor de Mercedes-Benz.
ResponderExcluirServe para lancha de passeio ou é melhor deixar só para barco de trabalho?
ResponderExcluirPode servir também para lanchas de lazer.
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