quarta-feira, 22 de abril de 2020

Caso para reflexão: Lada Niva, Fiat 147 e Fiat Uno brasileiro

Não é incomum ser mencionada uma semelhança visual entre o Lada Niva e o Fiat 147, o que é fácil  de explicar em função da transferência de tecnologia ocorrida por parte da Fiat em benefício da então estatal russa Avtovaz, embora as plataformas tenham algumas diferenças entre as quais cabe destacar a posição do motor longitudinal no Niva e transversal no 147. Diga-se de passagem, é compartilhado também o layout básico do motor apesar das diferentes faixas de cilindrada (disponível em versões de 1.6L e 1.7L no Niva e de 1.05L ou 1.3L no 147), tendo em vista que ambos são derivados do projeto de Aurelio Lampredi que deu origem ao motor originalmente tratado pela Fiat como 124, ainda que já incorporem o comando de válvulas no cabeçote e sincronização por correia dentada em substituição à configuração anterior de comando no bloco e corrente. Mas o fato de apenas um assegurar o direito à utilização de um motor Diesel caso o proprietário assim o deseje também dá margem a comparações, não só em função das configurações de sistemas de tração que servem de parâmetro para restringir a aplicabilidade desse tipo de motorização em modelos com a capacidade de carga nominal abaixo de uma tonelada e acomodação para menos de 9 passageiros além do motorista.
O comprimento de um Lada Niva é cerca de 11,5cm maior que o das primeiras versões do 147, mas é 2,2cm menor que versões Spazio, sendo também 13,5cm mais largo que ambas as carrocerias do 147 em comparação, e na distância entre-eixos o 147 tem 2,5cm a mais. No tocante à altura, embora o vão livre do Niva tenha uma vantagem de 7,5cm sendo pouco mais de 50% superior comparado ao 147 com 21,5cm contra 14cm, tem 9cm a mais na altura total, o que naturalmente causa algum impacto na aerodinâmica e por extensão na eficiência ao trafegar em alta velocidade em trechos pavimentados. É previsível que surjam questionamentos quanto à possibilidade de alguém comprar um Lada Niva para rodar só na cidade e na estrada, na mesma proporção que as capacidades de incursão off-road do 147 sejam postas em dúvida sobretudo pela tração simples dianteira, mas até nesse aspecto que parece tão difícil de avaliar pode-se questionar incoerências na restrição ao Diesel em veículos leves. Além de que em meio a tantas adaptações necessárias devido à escassez de peças de reposição originais para o Lada Niva já serem encontrados alguns exemplares que tiveram a tração 4X4 desativada mantendo só a tração traseira, convém recordar que o Fiat 147 chegou a ser testado com resultados satisfatórios até em pistas do Exército para testes de viaturas na Restinga da Marambaia, e assim ao menos em tese é capaz de atender razoavelmente inclusive a usuários em zonas rurais. Em último caso, pode até soar tentadora a idéia de soldar o diferencial no caso do 147 para ter efeito semelhante ao de um bloqueio de diferencial, e transpor com mais facilidade trechos escorregadios mesmo com tração simples, mas também é importante lembrar de não extrapolar demais a carga útil para evitar uma concentração de peso mais próxima ao eixo traseiro que desfavoreceria o Fiat em comparação ao Lada.

Outro caso digno de menção é do Fiat Uno brasileiro que foi adaptado à plataforma já usada pelo Fiat 147, ao contrário do modelo europeu que tinha a plataforma totalmente nova, e ter passado a figurar entre os automóveis mais apreciados por habitantes de regiões rurais devido ao custo de manutenção menor em comparação ao de veículos 4X4 que ao menos na teoria seriam uma opção mais desejável. Tal circunstância torna ainda mais clara a incoerência de se limitar o direito ao uso de motores Diesel com base em características definidas por burocratas que, por mais que possam estar imbuídos duma boa intenção de preservar suprimentos de óleo diesel convencional para aplicações "utilitárias", no fim das contas revelam um desconhecimento acerca das condições reais de uso que se sobreponham à expectativa por uma busca pelas alternativas supostamente mais ortodoxas. Enfim, permitir que só uma categoria de veículo numa faixa de tamanho semelhante possa se beneficiar com a viabilidade de se legalizar uma conversão para Diesel é um erro, mesmo observando o caso de modelos rústicos que seriam mais prováveis de se encontrar em aplicações efetivamente utilitárias, ao invés de observar a incoerência em se restringir o direito ao Diesel num hatch enquanto se libera para um SUV da moda...

Um comentário:

  1. Já vi muito carro pequeno e normal sendo usado por sitiantes, não precisavam nem ser 4x4 mesmo.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html