segunda-feira, 25 de maio de 2020

Algumas considerações sobre o fim do "carro popular" no Brasil e a viabilidade para uma liberação de motores Diesel

O mercado automobilístico brasileiro tem sofrido profundas transformações nos últimos 20 anos, que podem ser evidenciadas entre outras situações pelo distanciamento do conceito de "carro popular" em meio a modismos que não só diminuíram sensivelmente a procura por hatches generalistas, e ainda da maior presença de equipamentos de conforto e segurança. Até a carroceria de duas portas, que já foi a favorita do público brasileiro, por volta do ano 2000 estava ficando mais restrita a modelos de entrada como o Ford Fiesta. No entanto, por mais que em alguns aspectos tenha ocorrido uma inegavelmente necessária evolução principalmente no tocante a equipamentos de segurança, também vale ponderar a respeito do impacto sobre a oferta de veículos mais acessíveis e até certo ponto como a transformação do mercado nacional possa justificar a viabilidade de motores Diesel em automóveis.
No caso do próprio Ford Fiesta de 4ª geração que em alguns mercados de exportação regional contou com a opção por um motor Diesel de 1.8L naturalmente aspirado, aspectos que iam desde a ênfase na simplicidade técnica até o destaque que se dava à redução no consumo de combustível comparada aos motores a gasolina usados na época já seriam pretextos razoáveis para pôr em xeque tanto a restrição ao uso de motores Diesel em veículos leves no Brasil quanto o uso da cilindrada como parâmetro que definiria se um veículo justifica a categorização como "popular" ou não. Se por exemplo era bastante fácil deduzir que um Fiesta de duas portas com acabamento simples se enquadraria bem no conceito de "carro popular" quando foi produzido por volta de 20 anos atrás, não se pode negar o fato de que a comercialização simultânea tanto da 4ª geração quanto da 5ª do mesmo modelo reposicionada como "compacto premium" nessa fase teria pesado contra a evolução natural do mercado.

Por mais que a "tradição" de se oferecer simultaneamente um modelo mais antigo e outro moderno já venha sucumbindo também à economia de escala em alguns fabricantes, caso da Ford que tirou tanto o Fiesta de 5ª geração quanto o de 6ª geração de linha para concentrar os esforços no segmento básico com o Ka, o fato de um hatch generalista com motor de 1.0L já estar beirando os R$50.000,00 torna-se um empecilho a uma continuação do sucesso que a idéia do carro "popular" teve em outras épocas. Não se pode negar que ar condicionado, direção assistida (atualmente com um recurso mais frequente à direção elétrica ao invés de hidráulica), e até mesmo a maior praticidade que as 4 portas oferecem a um veículo que se proponha ao uso familiar, tem um impacto sobre o custo de produção que reflita no preço de venda, mas se mesmo com a alíquota de IPI menor destinada a veículos com motor até 1.0L ainda fica caro demais a ponto das vendas de veículos de entrada novos estar muito concentrada junto a frotas de empresas e outros consumidores que não podem abrir mão do 0km custe o que custar põe em xeque o sucesso do carro "popular".

Não dá para negar que o custo inicial mais alto inerente não só ao motor Diesel mas também a toda a parafernália que se tem feito necessária para atender aos limites cada vez mais restritivos de emissões resultaria num agravamento desse problema que vem transformando a idéia do carro "popular" numa ilusão. Ainda assim, mesmo que um impacto entre 12 e 15% sobre o preço inicial já possa soar como se tornasse injustificável a opção pelo Diesel, o fato do modelo indiano do Ka conhecido por lá como Ford Figo mantê-la mesmo em meio ao recrudescimento das normas de emissões em virtude da nova regulamentação Bharat Stage-VI mesmo sem diminuição de potência e torque do motor 1.5 TDCi que usa o catalisador LNT (Lean NOx Trap) ao invés de SCR pode ser considerado alentador à idéia de se proporcionar a mesma liberdade de escolha a alguns consumidores brasileiros que ainda compram um carro novo por efetiva necessidade mas não possam se dar ao luxo de migrar para um "utilitário" caro e eventualmente de manutenção mais complexa.
E mesmo que um hatch básico possa não parecer a melhor base para um veículo off-road, a moda dos soft-roaders também chegou a eles, representada no caso do Ka pela versão Freestyle. Evidentemente que a atual geração de carros "populares" está distante de ser tão otimizada para operação em terrenos severos, para a qual seria de se pressupor que veículos com outras configurações estariam mais aptos, mas não se pode ignorar que em algumas condições de uso já acabam por enfrentar uma rodagem até mais dura do que muitos SUVs de luxo e pick-ups de cowboy de posto enfrentarão algum dia. Enfim, mesmo que não seja justificável no tocante à capacidade de carga e passageiros ou tração, ainda cabe supor que uma maior sofisticação técnica em alguns aspectos mesmo tendo afastado uma parcela do público dos carros "populares" soa como um bom precedente para uma eventual liberação do Diesel.

Um comentário:

  1. Agora que até gente rica anda nesses carros pequenos enfeitados como se fossem um jipinho, já dá para ter uma noção de que está caro demais.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html