Responsáveis pela “dieselização” das ferrovias norte-americanas, em substituição às locomotivas a vapor, e ainda hoje extremamente competitivos na
navegação devido à relação peso/potência mais favorável, simplicidade e menor volume físico, hoje os motores Diesel 2-tempos não gozam mais do mesmo prestígio que perdurou por 50 anos nos Estados Unidos no segmento rodoviário.
A partir de 1938 com a inauguração da GM Diesel Division, mais conhecida como Detroit Diesel e atualmente sob o comando da Daimler-Benz, os motores a gasolina passavam a enfrentar uma forte concorrência que acabou por afastá-los do transporte rodoviário pesado. Vencendo limitações dos Diesel 4-tempos da época, que além de excessivamente volumosos e pesados eram dotados de uma potência específica significativamente inferior e apresentavam um nível de vibrações muito crítico, o ciclo Diesel 2T já consagrado pela indústria náutica e para geração de energia elétrica começava a se apresentar como uma opção racional ao uso veicular, logo conquistando espaço no mercado americano.
Com a II Guerra Mundial se aproximando, os motores Detroit Diesel encontraram alguma
aplicação militar, com grande destaque em equipamentos de suporte terrestre à aviação, onde puderam comprovar as características de desempenho e robustez que renderam-lhes uma lendária reputação. Ainda hoje algumas versões seguem em produção, agora licenciada à empresa de origem alemã MTU, para atender principalmente a fins militares e náuticos.
Enquanto concorrentes como Cummins e Caterpillar promoviam revisões em suas linhas de produtos, levando um motor 4-tempos de 6 cilindros em linha na faixa dos 12 litros a um peso menor que o do outrora soberano Detroit Diesel 8V92-T, a empresa permaneceu inebriada por um infeliz comodismo que apenas serviu para pôr em xeque as vantagens do ciclo Diesel 2T numa época que começavam a ser apresentados ao mercado americano motores Diesel 4-tempos com uma relação peso/potência comparável, vibração atenuada e volume mais contido, facilitando repotenciamentos em diversos veículos durante os anos 70 e 80, quando a “dieselização” em pick-ups full-size, caminhões leves e nas populares “step-vans” teve um grande impulso em função das crises do petróleo.
Foi um importante período de transição: motores como os Cummins B3.9 (popularmente conhecido como 4BT) e B5.9 (ou 6BT) e alguns importados do Japão como Isuzu e Mitsubishi começaram a conquistar segmentos do mercado veicular em que a Detroit Diesel reinava soberana com a Série 53, enfrentando uma concorrência ocasional e até então bastante limitada aos Perkins 4-236 e 6-354 e alguns motores John Deere e Caterpillar mais orientados a aplicações agrícolas e maquinário pesado em geral.
Em segmentos mais pesados como os ônibus e os caminhões, incluindo desde modelos vocacionais como os usados em coleta de lixo e outros serviços urbanos até os clássicos “big rigs”, a evolução dos motores 4-tempos no mercado americano foi ainda mais notável, e até a própria Detroit Diesel fez-se representada com a Série 60 a partir de 1987. Leis antipoluição mais rigorosas em vigor a partir de 1988 foram levando a uma menor participação dos Diesel 2T com projeto básico de finais da década de 30, cuja emissão de
material particulado era considerada mais difícil de conter do que num concorrente 4T – provavelmente quem defendia tal teoria não conhecia os caminhões FNM (ou popularmente “fenemê”) que defumaram as estradas brasileiras por muitos anos...
As primeiras experiências da Detroit Diesel com motores 4-tempos remontam a 1982, quando foi desenvolvido um V-8 de 6.2L e injeção indireta, ainda com comando de válvulas no bloco e inicialmente orientado à linha de caminhonetes do grupo GM mas que acabou sendo também bastante popular em caminhões leves e motor-homes, além de equipar o Hummvee. Enquanto a Série 60 segue consolidando-se entre os maiores sucessos da Detroit Diesel, o V-8 hoje é produzido pela AM General numa versão de 6.5L com opções por turbocompressor ou aspiração natural e versões automotivas, industriais ou marítimas, com o nome comercial Optimizer 6500, e por ser eventualmente considerado
mais apto à operação com combustíveis alternativos em função do sistema de injeção permanece equipando o Hummvee militar mesmo após o Hummer H1 de especificação civil ter usado o Duramax 6600 de injeção direta e co-projetado por GM e Isuzu compartilhado com a Chevrolet Silverado/GMC Sierra, Chevrolet Express/GMC Savana e os antigos Chevrolet Kodiak/GMC Topkick.
Tecnicamente, uma peculiaridade que chama muita atenção nos motores Diesel 2-tempos é a necessidade de um compressor mecânico, popularmente conhecido como “blower”, visto a pressão de aspiração ser mais baixa. À parte esse detalhe, o funcionamento chega a ser mais simples que num Diesel 4-tempos. Ainda que as válvulas possam ser totalmente eliminadas como é habitual em grandes motores de aplicação náutica ou estacionária/industrial, à exceção da rara Série 51 os Detroit Diesel clássicos mantinham as de escapamento, que acabavam sendo imprescindíveis para manter
a potência de frenagem a níveis mais adequados mediante o famoso freio-motor por descompressão “Jake Brake”.
Recentemente, uma nova geração de motores Diesel 2-tempos começou a surgir, sobretudo pelo esforço da empresa
DeltaHawk Diesel Engines, mais focada no segmento aeronáutico. O interesse pelo Diesel na aviação, que não é tão recente quanto alguns imaginam, remontando a 1932 quando o motor Junkers Jumo 204 teve a primeira aplicação comercial, acabou reacendido por conta da
manutenção mais simples em comparação a concorrentes de
ignição por faísca (ciclo Otto, no caso), além da
adaptabilidade a combustíveis alternativos e a
aptidão para enfrentar ambientes extremos com uma menor propensão a falhas. A evolução que passou longe dos antigos Detroit e fez com que os concorrentes 4-tempos pudessem superá-los acabou por fazer-se presente dessa vez, mas não foi demonstrado muito entusiasmo em adaptar os novos motores para aplicações automotivas por conta da excessiva burocracia de agências reguladoras como a EPA, que há tempos vem prejudicando uma maior participação de motores Diesel no mercado americano de veículos leves em nome de falsas promessas ecológicas.
Na prática, por mais que o setor automotivo os tenha relegado à sombra de um passado glorioso, pode-se deduzir que o ciclo Diesel 2T ainda tem potencial para atender a demandas por uma relação peso/potência mais favorável e maior eficiência, reduzindo o consumo de combustível e a poluição do ar. Vale destacar também a simplificação dos processos produtivos devido à eliminação de alguns componentes como válvulas e respectivos sistemas de acionamento, além de requerer menos matérias-primas para a fabricação em comparação com um Diesel 4T de desempenho similar. Logo, a rejeição motivada por questões ambientais continua podendo ser posta em dúvida...
tenho 41 anos so apaxonado por motor detroit trabalho num fh 440 queria quetivece um motor detroit 2 tempo so quem conheçe sabe de que eu to falando e um motor pra que gosta de acelera boa noite um abraço sandro s deoliveira
ResponderExcluirUau!Sensacional!Amigo,desculpe,mas tive de compartilhar no meu Facebook na minha página sobre máquinas pesadas esse verdadeiro documentário sobre este motor que eu também sou fã!
ResponderExcluirCaso queira ver ele lá:
https://www.facebook.com/groups/1410810259199523/
Boa tarde!
ResponderExcluirTodas as séries do Detroit Diesel (53 - 71 - 92 - 149) tem as peças intercambiáveis dentro da mesma série, já que cada uma possui uma grande gama de motores. Só a série 71 conta com motores com 2, 3, 4, 6, 8. 12 e 16 cilindros.
Fora isso, todas as séries, não importando o número de cilindros, possui um ronco maravilhoso e contagiante.
E para completar, o cheiro da fumaça e um odor completamente diferente e mais agradável que os motores diesel 4T. Quem conhece sabe o que estou dizendo.
Lamentavelmente a Mercedes Benz chupou o que pode da Detroit e encerrou a produção dos "two strokes".
Um grande abraço a todos.
ROBERTO ZULKIEWICZ (Pesquisador e entusiasta de veículos com Detroit Diesel 2T)
Pelo que eu me lembre, a empresa alemã MTU adquiriu licenças de fabricação das séries 53 e 92 visando atender aos mercados militar e náutico.
ExcluirHoje a Daimler-Benz ñ faz mais parte do grupo Detroit diesel, foi até 2011. Por isso agora a Demand Detroit diesel vem postando muitas fotos e motores remanufaturados de Detroit diesel 2 tempos.
ResponderExcluirola eu tenho uma f75 e quero colocar motor diesel e encontrei um motor detroit , vcs me recomenda??? alguma dica???
ResponderExcluirÉ um motor muito pesado. Tem valor histórico mas está longe de ser hoje a melhor opção em termos práticos.
ExcluirTemos que acabar com essas leis ambientais que impede o desenvolvimento de motores mais baratos e de fácil manutenção. os motores dois tempos tanto a gasolina como Diesel tem que voltar aos veículos de uma forma geral, chega de leis que impedem o desenvolvimento das industriais.
ResponderExcluirNa minha humilde opinião,eu acho q os detroit diesel2tempos, não poluem mais q os atuais 4tempos,pois o diesel era puro,assim como hoje,n nã era necessário misturar óleo 2tempos,como na gasolina,era apenas diesel puro,possuía cárter e tudo mais,é um sistema bem diferente do um 2tempos a gasolina,ok,falo isso pois tenho um bom conhecimento de mecanica
ResponderExcluirNa questão dos óxidos de nitrogênio que são o motivo da atual caça às bruxas, o 2-tempos ia até melhor. O bicho pegava no material particulado. Em 2002 fizeram um teste na Inglaterra com um caminhão Commer equipado com o motor Rootes TS3, comparado com utilitários homologados nas normas Euro-3, e o único critério que o 2-tempos não foi melhor era na emissão de material particulado.
ExcluirOs motores Diesel 2t oferece maior potencia em função da rotação, mas os fabricantes ao colocar este motor em veiculos rodoviarios estão submetidos ao consumo e aos niveis de poluição conforme as exigencias do país onde eles irão operar.
ResponderExcluirApesar de que hoje a evolução nos sistemas de gerenciamento eletrônico podem proporcionar uma melhoria no consumo de combustível e emissão de material particulado, comparável aos benefícios que ocorreram em motores 2-tempos de ignição por faísca principalmente em aplicações náuticas.
Excluir