quarta-feira, 11 de maio de 2016

Gordura de frango: mais uma alternativa para a produção de biodiesel

A avicultura é hoje um dos principais destaques da agroindústria brasileira, atendendo não apenas ao mercado interno mas também com uma expressiva participação das carnes de frango e de peru nas exportações, tanto ao natural quanto processadas. Partes da carcaça costumam ser mais valorizadas comercialmente, enquanto o consumo das vísceras para fins alimentícios ainda é visto com alguma reserva e apenas o coração, o fígado e a moela do frango acabam tendo alguma popularidade principalmente devido ao custo. O uso da farinha de vísceras de aves como fonte de proteínas na composição de rações para cães e gatos ainda é, no entanto, a destinação mais usual.

Considerado um subproduto do processamento das vísceras para elaboração da farinha, desde 2006 o óleo vem sendo aproveitado para a produção de biodiesel no Brasil, com destaque para o Paraná. O frigorífico Big Frango, atualmente incorporado ao grupo JBS/Friboi, deu o pontapé inicial para essa aplicação tendo como principal motivação uma menor dependência do óleo diesel convencional no abastecimento da frota própria. No entanto, a primeira iniciativa para aproveitar essa matéria-prima em escala comercial foi dada apenas em 2016 quando a Cooperativa Agroindustrial do Sudoeste do Paraná (Coasul) passou a fornecer para a Petrobras Biocombustível dentro do programa "Selo Combustível Social" destinado à promoção de uma maior participação da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel.

Embora já seja amplamente usada como suplemento calórico em rações para as próprias aves principalmente em função da disponibilidade na cadeia produtiva da avicultura, a gordura de frango ainda pode ser substituída por outras opções mais econômicas ou mesmo mais apropriadas ao perfil da criação. Por mais que pareça insignificante no caso de aves de corte, a substituição por óleo de peixe na ração de galinhas poedeiras traz como resultado mais notável um incremento na concentração de gorduras poli-insaturadas nas gemas dos ovos, inclusive dos ácidos graxos Ômega 3 e 6 tão valorizados em virtude de benefícios ao sistema cardiovascular e, além de liberar as gorduras de frango para o uso como matéria-prima para biodiesel, não é uma medida tão difícil de implementar quanto possa inicialmente parecer. Por mais que a gordura corporal na maioria das espécies de peixes destinados à alimentação humana esteja mais concentrada no fígado, e em alguns casos já tenha um bom valor comercial em função do uso como suplemento alimentar a exemplo do óleo de fígado de bacalhau, a taxa de conversão de matéria orgânica em proteína e por conseguinte o ciclo de crescimento mais rápido já favorece o uso de gorduras de peixe com valor comercial mais baixo não apenas do fígado mas também da pele que é geralmente desprezada após a separação dos filés dos peixes.

A gordura que sobra da preparação de frangos assados nas tradicionais "televisões de cachorro" também é aproveitável para a produção de biodiesel, e outra vez um exemplo do Paraná é digno de nota. O empresário João Cláudio Plath, de Apucarana, ficou conhecido nacionalmente por utilizar o combustível alternativo em um Jeep Willys adaptado com motor Volkswagen EA-827, o famoso motor da Kombi Diesel. A participação dele em alguns programas de televisão entre 2004 e 2005 trouxe uma importante visibilidade para essa matéria-prima tão abundante no país, embora nenhuma iniciativa de maior volume tenha sido implementada posteriormente. Talvez a dificuldade para coletar a gordura proveniente de tantas "televisões de cachorro" espalhadas pelo Brasil possa ser vista como a maior dificuldade num primeiro momento, enquanto a impossibilidade de comercializar o biodiesel diretamente ao consumidor final devido às regulamentações da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) se mostra outro empecilho prático, mas de certa forma não deixa de ser uma boa alternativa para tantos pequenos comerciantes que tem uma "televisão de cachorro" instalada num mercadinho, padaria ou boteco e desejam reduzir os custos operacionais e a própria dependência por combustíveis mais tradicionais.

Uma integração entre a produção de biocombustíveis e alimentos é fundamental para assegurar não apenas a rentabilidade de tais operações como também um menor impacto sobre a disponibilidade de terra agricultável. Nesse contexto, o aproveitamento de matérias-primas relativamente baratas e atualmente subaproveitadas é uma das principais medidas para reduzir a dependência por petróleo sem acarretar em prejuízos à segurança alimentar. A gordura de frango é portanto mais uma alternativa que ainda passa despercebida pelo grande público, mesmo após ter a viabilidade econômica e a adequação à realidade brasileira devidamente comprovadas.

5 comentários:

  1. ¿Y como lo vamos a tener isaw ng manok si lo haces biodiesel con los intestinos del pollo? Pero si no les gusta a la gente de Brasil comer intestinos creo que lo mejor que hay es sacar la grasa para hacer el biodiesel.

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    1. A culinária asiática tem algumas coisas que realmente não parecem nada apetitosas para um branco ocidental.

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    2. Eso se ve en los menus de los restaurantes chinos.

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  2. Para exportação as autoridades de alguns países já se exigem que os frangos tenham sido tratados sem nenhuma alimentação de origem animal, não pode usar nem gordura de frango ou as penas como fonte de proteína.

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  3. Com a obsessão dos boiolas de academia por frango com batata doce não ia faltar sebo de frango para fazer biodiesel.

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