quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Caso para reflexão: triciclo chinês na Rua da Praia e a incoerência em classificar utilitários pela capacidade de carga nominal

Triciclos podem constituir efetivamente uma opção interessante de veículo para servir às operações de distribuição urbana e logística de "última milha", sobretudo pela leveza e a racionalização entre o tamanho e a capacidade volumétrica de carga, mas também dão margem à reflexão em torno do quão infeliz é a restrição ao uso de motores Diesel com base apenas numa capacidade de carga nominal inferior a uma tonelada. No caso específico desse Tiger Cargo TB 200 do Bistrô Marzana que eu vi ontem na Rua da Praia, não seria aplicável tratar da ausência de acomodação para passageiros ou de tração suplementar, mas qualquer um com o mínimo de bom senso seria capaz de reconhecer o caráter utilitário de um veículo com essa configuração.

O uso de um motor com concepção essencialmente motociclística já seria um bom pretexto para levar em consideração a defasagem nas normas de emissões hoje aplicadas às motos e assemelhados, o que fomenta até a permanência do carburador cujo uso em automóveis tornou-se oficialmente inviável no mercado brasileiro a partir de 2012 quando tornou-se obrigatória a compatibilidade com a plataforma de diagnóstico de falhas OBD-II junto à introdução das normas Euro-5. Essa situação já se revela um problema em virtude das dificuldades para recorrer a combustíveis alternativos sem sacrificar o uso da gasolina, tendo em vista não só a adaptabilidade proporcionada pelo gerenciamento eletrônico a eventuais oscilações nas especificações do combustível sendo essencial para os motores "flex" mas também o fato da incompatibilidade com o gerenciamento eletrônico de certa forma ter se tornado um empecilho a mais para a homologação de sistemas a gás natural para aplicações motociclísticas. Logo, tendo em vista que o princípio de funcionamento num motor 4-tempos de ignição por faísca é o mesmo tanto para aplicações motociclísticas quanto automobilísticas e até mesmo aeronáuticas, não cabe deixar passar batido essa incoerência também no tocante a politicagens anti-Diesel que tratam ou a ignição por faísca ou eventualmente a tração elétrica como se pudessem efetivamente atender a todos os cenários operacionais.
Até recursos que já se tornaram lugar-comum nos automóveis, como catalisador no escapamento e a refrigeração líquida no motor, tiveram uma adoção muito mais lenta em motos e triciclos, o que acaba por fomentar até mesmo uma desconfiança quanto a eventuais melhorias na qualidade do ar em áreas urbanas que um uso mais intenso desse tipo de veículo em substituição a caminhonetes de pequeno porte tradicionais poderia trazer. Vale destacar que, mesmo com uma concepção mecânica bastante rústica e a velocidade final dificilmente ultrapassando os 60km/h devido às relações de marcha que priorizam a força para o modesto motor superar fatores de carga significativamente mais elevados em comparação aos que se aplicam a uma moto, é usual nesses triciclos chineses uma média de consumo entre 20 e 25km/l com gasolina. Pode parecer satisfatório, mas ainda seria tentador considerar o que um motor Diesel poderia proporcionar, mesmo que fosse um daqueles estacionários cuja potência específica (cv/L) e a relação peso/potência não são nada espetaculares nem mesmo comparadas aos primeiros motores Diesel automotivos leves...

O triciclo em questão obviamente tem a capacidade de carga nominal inferior a 1000kg, sendo o mais comum nessa categoria de veículos que não supere os 400kg, mas qualquer um percebe que não seria tão propenso a se tornar um brinquedão de cowboy de apartamento ou servir de ornamento para uma dondoca desfilar no estacionamento do Iguatemi. Portanto, já derruba facilmente a crença em torno da capacidade de carga nominal como um pretexto válido para determinar qual veículo é "utilitário" ou não. Enfim, esse é mais um retrato do efeito das restrições ao uso do Diesel em veículos leves no Brasil, desafiando os empreendedores a buscar soluções menos ortodoxas para conciliar a necessidade de transporte a um custo operacional reduzido.

5 comentários:

  1. Faz muito sentido mesmo. Pick-up grande que pode usar diesel eu vejo mais sendo usada como carro particular, e para serviço é mais fácil ver um Hyundai HR ou um furgão tipo Sprinter, fora as picapinhas pequenas que na maioria das vezes estão com kit gás ou então no álcool que é barato aqui em São Paulo. E eu até já vi uns triciclos como esse, e também umas motos Honda transformadas.

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  2. Sidecars para uso comercial no son tan raros en las Filipinas, y eses triciclos chinos ya son populares tambien en otros países de la región.

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  3. Já vi uns triciclos parecidos com esse aqui em São Paulo. Não me parece muito confortável, mas se for econômico eu até acho compreensível empresas estarem usando.

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  4. Tem o inconveniente do motorista ficar muito exposto pelas laterais, mas já quebra o galho para muitos comércios pequenos que precisem de um carro.

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  5. Brasil é um lugar muito doido mesmo, aqui o povo tem que se conformar com qualquer porcaria ou fazer gambiarra para ver se alguma coisa dá certo.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html