4 motivos para o biometano permanecer relevante como um possível complemento ao biodiesel

Dentre tantos biocombustíveis que podem efetivamente servir ao propósito de fomentar a renovação da matriz energética do transporte rodoviário, o biometano ainda é um ilustre desconhecido aos olhos do grande público. Naturalmente, por se tratar de um combustível gasoso, o manejo tende a ser mais complexo que o dos combustíveis líquidos e portanto encontrar certa resistência junto a uma parcela expressiva dos operadores atualmente mais dependentes do óleo diesel convencional. No entanto, há alguns aspectos que podem favorecer o biometano, nem tanto como um pleno substitutivo para o óleo diesel em todos os segmentos mas como um complemento, dentre os quais pode-se destacar:

1 - maior simplicidade do controle de emissões: tanto ao ser usado puro em motores de ignição por faísca quanto combinado a outro combustível em motores Diesel, basicamente o biometano tende a replicar resultados já observados com o gás natural de origem fóssil, sobretudo na menor formação de material particulado e óxidos de nitrogênio (NOx). No caso de motores Diesel, é importante lembrar que o uso simultâneo do biometano injetado no coletor de admissão e do combustível líquido que seja efetivamente submetido à ignição por compressão resulta num benefício ao processo de combustão, ao contrário de métodos de pós-tratamento dos gases de escape como o sistema SCR (Selective Catalytic Reduction - redução catalítica seletíva, para controle dos NOx) e dos filtros de material particulado (DPF - Diesel Particulate Filter) amplamente utilizados nas atuais gerações de veículos movidos a óleo diesel convencional e/ou biodiesel. Cabe lembrar a experiência da empresa Braspress, que observou índices de emissões equivalentes às normas Euro-5 usando uma proporção variável entre 80 e 95% de gás natural num caminhão Mercedes-Benz Atego 1315 originalmente homologado nas normas Euro-3. Tendo em vista que a maior parte da uréia industrial usada na formulação do fluido ARLA-32 (também conhecido em outros países como AdBlue, ARNOx-32 ou DEF - Diesel Exhaust Fluid) essencial para o funcionamento do sistema SCR é sintetizada a partir de gás natural de origem fóssil, podendo consumir também uma quantidade do mesmo como fonte de energia nesse processo, pode-se deduzir que um uso direto tanto desse quanto do biometano em caráter suplementar ao óleo diesel convencional ou ao biodiesel seria mais coerente no tocante à eficiência energética como um todo.

2 - ampla disponibilidade de matérias-primas tanto no campo quanto na cidade: possivelmente seja a maior vantagem para o biometano, especialmente em comparação ao etanol que ainda depende majoritariamente da cana de açúcar mesmo diante do recente crescimento no uso do milho no Centro-Oeste. Desde resíduos do manejo agropecuário e beneficiamento industrial tanto de cultivares quanto de produtos de origem animal até o lixo orgânico doméstico, passando também pelo esgoto, sobram recursos cujo potencial energético hoje permanece subaproveitado e ainda se tornando problemático no tocante às emissões. Vale lembrar que o metano cru gerado normalmente durante a decomposição de qualquer matéria orgânica, ao ser lançado diretamente à atmosfera, tem uma meia-vida mais longa que o dióxido de carbono (CO² - "gás carbônico") gerado durante a combustão.

3 - proximidade aos potenciais consumidores: podendo ser implementado nas mais diversas áreas, o biometano teria até mesmo uma maior facilidade para alcançar localidades onde os gasodutos que operam com o gás natural de origem fóssil não tem ramais. De condomínios que possam usar esse combustível para fins estacionários (grupos geradores, aquecimento de água e em substituição ao gás liquefeito de petróleo nos fogões) até fazendas onde se torne viável usar tratores a gás, passando por frotas de ônibus urbanos e empresas de logística e distribuição que possam efetivamente utilizar para fins automotivos, uma produção mais regionalizada do biometano ainda se revelaria benéfica devido à economia proporcionada pela menor distância entre a unidade de produção e o usuário final quando comparado não só a outros combustíveis mas também a alguns insumos como o ARLA-32.

4 - deficiências no saneamento básico: uma eventual expansão na oferta do biometano em escala comercial no Brasil poderia vir atrelada a melhorias na rede coletora de esgoto residencial, podendo até proporcionar uma maior sustentabilidade financeira dos serviços de saneamento básico mediante a venda do biometano e talvez até a negociação dos "créditos de carbono". Até nas grandes regiões metropolitanas se observam problemas, tendo em vista que o crescimento desordenado às vezes se antecipa à chegada de infraestruturas como a própria rede coletora de esgotos, além de permanecer relativamente comum o uso irregular das chamadas "fossas negras" sem impermeabilização e que podem acarretar até mesmo numa contaminação de lençóis freáticos subterrâneos.