quinta-feira, 11 de outubro de 2018

5 aplicações onde o biometano pode ser mais efetivo

Não só no tocante à segurança energética, mas também considerando o aspecto da "sustentabilidade", é praticamente impossível tratar um único combustível alternativo como o salvador da pátria. Em meio a condições operacionais distintas, cada opção pode ter vantagens ou desvantagens que devem ser avaliadas para definir qual seria efetivamente mais adequada às necessidades do operador. Assim, até o subestimado biometano pode demonstrar algum valor, com destaque para as seguintes aplicações:

Táxis: embora se mantenha desejável a liberação do Diesel em veículos leves, o fomento ao biodiesel e eventualmente ao uso direto de óleos vegetais como combustível, medidas que poderiam beneficiar também aos taxistas, é possível que a adesão não seja tão forte ao menos em algumas regiões onde o gás natural já predomina nesse segmento. Não apenas pela infraestrutura de gás canalizado, merecem um destaque especial uma série de fatores que vão desde a operação num espaço mais delimitado e o baixo volume de cargas ou bagagens a ser transportado, de modo que os cilindros de armazenamento do combustível adaptados ao veículo possam não ser tão problemáticos mesmo numa quantidade que se faça necessária para assegurar uma autonomia satisfatória. Mas provavelmente o principal motivo para o aparente desinteresse de alguns taxistas pelo Diesel é a estagnação tecnológica em boa parte dos motores de ignição por faísca, que na melhor das hipóteses facilita a conversão para combustíveis gasosos.
Nesse contexto, é conveniente recordar o exemplo da Fiat que fez bastante sucesso na praça com o antigo Grand Siena Tetrafuel que já saía de fábrica configurado para usar o gás natural no motor Fire de 1.4L em simultâneo com gasolina e etanol ou alternando com o combustível líquido de acordo com as condições de carga e aceleração, e traçar um paralelo com a situação do Volkswagen Virtus que não tem essa opção mas ainda dispõe de um motor "flex" de 1.6L naturalmente aspirado com injeção sequencial muito mais fácil de adaptar para gás em comparação ao 1.0TSI com turbo e injeção direta que equipa as versões superiores.
Dada a alta compressibilidade do gás permitindo o uso de misturas pobres que seriam problemáticas com a gasolina ou o etanol caso não se recorra à injeção direta, e assim o consumo de combustível não fique tão desfavorável apesar do desempenho mais limitado com o motor 1.6MSI, não é nenhuma surpresa que até entre os taxistas essa opção pareça fazer mais sentido do que ficar esperando que a sucursal local da Volkswagen passasse a oferecer uma versão com o motor 1.0TGI usado em alguns modelos da marca na Europa e derivado do TSI. Como a intenção por trás do uso do gás é evitar a gasolina e/ou o etanol, e o motor TSI ao ser convertido ainda precisaria de uma pequena quantidade do combustível líquido basicamente para refrigerar os bicos injetores originais e prevenir danos que a exposição direta à frente de propagação de chama poderia causar aos mesmos, tanto o MSI por trazer os bicos injetores fora das câmaras de combustão quanto o TGI que pode usar o gás sem abrir mão da injeção direta original fariam mais sentido, mas o custo inicial e a menor sofisticação certamente pesam a favor do MSI.

Logística e distribuição urbana/metropolitana/"última milha" e entregas fracionadas: poderia ser usado o biometano tanto em veículos leves hoje sem acesso ao Diesel no mercado brasileiro por conta da capacidade de carga nominal inferior a uma tonelada como a Fiat Strada até caminhões. Operações centralizadas com frotas cativas que retornem para um hub central ao final do turno de trabalho facilitam a logística de reabastecimento e, no caso de prestadores de serviço para indústrias alimentícias e de bebidas, vale destacar um possível aproveitamento de rejeitos do beneficiamento industrial como matéria-prima para o combustível.

Caminhões de coleta de lixo: chega a ser surpreendente que o biometano ainda não seja amplamente usado nesse tipo de operação. Além da produção do combustível alternativo mediante purificação do biogás bruto poder ser feita a um custo significativamente inferior ao do óleo diesel convencional no entorno dos aterros sanitários onde os veículos fazem a operação de descarga, já aproveitando para abastecê-los no local, também é importante considerar uma eventual redução no nível de ruídos que viria a causar menos desconforto para a população durante operação noturna de coleta de lixo. Cabe destacar que, além de um eventual uso exclusivo do biometano, também existe a viabilidade técnica de um uso simultâneo ao de um combustível líquido que sofra a ignição por compressão, de modo que o gás por não precisar fazer a transição de fase líquida para vapor acaba aumentando a velocidade de propagação de chama nas câmaras de combustão e proporciona uma queima mais completa com menos formação de fuligem.
Vale destacar que, nos caminhões de fabricação mais recente já enquadrados nas normas Euro-5, um eventual uso do biometano poderia simplificar boa parte dos processos de pós-tratamento dos gases de escapamento. Além de uma menor saturação de filtros de material particulado (DPF), também há uma diminuição na geração de óxidos de nitrogênio (NOx) tendo em vista a redução na concentração de oxigênio no fluxo de admissão tal qual ocorreria com o sistema EGR de recirculação de gases de escape. Uma efetiva melhora no processo de combustão acaba fazendo até mais sentido que o sistema SCR de pós-tratamento, além do mais que o gás natural de origem fóssil predomina como matéria-prima no processo de síntese da uréia usada na formulação do reagente químico ARLA-32/ARNOx-32/AdBlue usado nesse dispositivo.

Caminhões limpa-fossa e veículos de serviço de água e esgoto: chega a soar muito estúpido que essa alternativa não seja tão explorada, justamente pela operação desses veículos já ocorrer em função de uma matéria-prima tão abundante e poder articular-se a uma expansão das redes coletoras de esgoto. E considerando uma eventual concorrência com outros biocombustíveis, como a produção do biometano acaba sendo integrada à de um substrato com alto teor de nitrogênio que pode ser usado como base para fertilizantes agrícolas, também oferece um bom contraponto às criticas em torno do uso de gêneros alimentícios como o milho para se fazer etanol e até biodiesel.

Tratores: talvez essa aplicação figure entre as mais polêmicas, tendo em vista que as restrições ao uso do óleo diesel convencional em veículos leves visavam teoricamente salvaguardar o suprimento desse combustível para aplicações utilitárias. Considerando que ao menos no segmento de tratores para uso industrial o Diesel já enfrenta concorrência do gás liquefeito de petróleo (GLP - "gás de cozinha") que no Brasil é proibido para uso em veículos destinados ao tráfego em vias públicas, não seria de se estranhar que o biometano pudesse ser usado tanto nesse tipo de operação quanto na agropecuária. Na maioria dos casos é possível a produção do combustível na própria unidade consumidora, bem como a maior simplicidade em dispositivos de controle de emissões aplicados a motores de ignição por faísca muitas vezes se restringindo a um catalisador de 3 vias e um silenciador, pode favorecer essa alternativa diante da implementação das normas de emissões MAR-I. A área de operação restrita também se torna menos problemática no tocante à autonomia, em função das distâncias mais curtas a serem percorridas a partir do(s) ponto(s) de reabastecimento.

3 comentários:

  1. Ainda vale a pena usar álcool em carro particular aqui em São Paulo. Então essa encrenca com o gás natural fica mais relevante para taxista e outros que usam o carro a trabalho mesmo.

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  2. Do jeito que taxista geralmente não gosta de motor muito sofisticado por causa do preço da manutenção, até não me surpreenderia rejeitarem o diesel e preferirem o gás por isso mesmo. Só de não ter o turbo eu já acho que é uma coisa a menos para dar problema.

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  3. Teve muito lugar na Ásia onde se usou táxi a diesel, mas hoje a grande maioria daqueles formigueiros humanos só tem táxi a gás mesmo. Mas o gás que usam mais em carros pelo menos no Japão é o nosso gás de cozinha mesmo.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html