Caso para reflexão: Effa V22

Não é nenhuma novidade que alguns utilitários de origem asiática tem feito algum sucesso devido ao custo inicial relativamente baixo, bem como pelas dimensões compactas que facilitam manobras em espaços urbanos cada vez mais congestionados. Dentre os modelos atualmente oferecidos no Brasil, a pick-up Effa V22 acaba sendo um modelo interessante de se observar por conta de alguns aspectos.

Com um comprimento de 4,84m que pode não parecer tão compacto, em contraste com a largura sem espelhos de 1,635m que se destaca em comparação a utilitários mais tradicionais com capacidade de carga comparável aos 1240kg que o modelo é homologado no Brasil (1500kg em outros países), e um motor de 1.3L com 4 cilindros a gasolina derivado de projetos antigos da Suzuki até hoje copiados à exaustão na China, é previsível que surjam questionamentos acerca da não-disponibilidade de pelo menos uma opção Diesel nesse e em outros modelos chineses mesmo se enquadrando em requisitos de homologação como "utilitário". Naturalmente, a percepção de um menor valor agregado comparando com as pick-ups médias mais tradicionais faz com que pareça mais tolerável usar um motor não apenas defasado mas também um tanto fraco para a proposta do modelo, requerendo uma relação de diferencial muito curta para que o modelo consiga lidar com um peso bruto total consideravelmente mais elevado do que o de um carro compacto para o qual foi originalmente previsto, às custas de uma velocidade máxima baixa e de um consumo de combustível que passa longe de ser muito melhor do que o de pick-ups mais tradicionais.

Certamente o custo não só de um motor turbodiesel, mas também de todos os dispositivos de controle de emissões que teriam de ser associados para manter o enquadramento nas normas de emissões em vigor no país, poderiam parecer um empecilho muito maior do que o público-alvo de um veículo que se propõe a ser uma mera ferramenta de trabalho estaria disposto a arcar. De fato, o impacto sobre o preço de um veículo à medida que incorpora sistemas como filtro de material particulado, catalisador LNT (Lean NOx Trap - para retenção de óxidos de nitrogênio e posterior decomposição dos mesmos) e eventualmente ainda uma válvula EGR fica ainda mais sensível num pé-duro de trabalho que não vá contar com o maior valor agregado de alguns itens que tem sido incorporados numa pick-up média mais generalista, mas não deixa de ser no mínimo inoportuno ignorar que alguns potenciais usuários seriam beneficiados por essa opção, e eventualmente também poderia ser útil para incentivar um uso de veículos com um porte mais compacto por uma parte do público que se vê praticamente obrigada a migrar para um modelo maior pura e simplesmente para não abrir mão de um bom motor turbodiesel.

Não se pode ignorar também um eventual impacto da restrição arbitrária com base em capacidades de carga ou passageiros ou tração na falta de interesse em trazer para o Brasil ou adaptar às condições do mercado local uma oferta de motores turbodiesel compactos o suficiente para que uma instalação em utilitários de concepção semelhante à Effa V22 não se torne exageradamente desafiadora. Tratando-se de um modelo montado a partir de kits CKD, ao menos teoricamente ainda seria mais fácil agregar uma maior quantidade de componentes locais e/ou regionais do Mercosul que poderia abranger até o motor se fosse o caso. Eventualmente uma obsessão menos intensa pela quantidade de cilindros ainda poderia até favorecer essa abordagem, bem como uma oferta de motores turbodiesel em automóveis de concepção generalista caso sejam derrubadas as limitações meramente burocráticas hoje em vigor.