Em se tratando dos motores Diesel, que normalmente apresentam faixas de rotação mais baixas que os concorrentes de
ignição por faísca, falar em "alta rotação" pode soar contraditório. Diga-se de passagem, até a definição mais comum sobre tal aspecto em aplicações automotivas pode ser considerado impreciso e arbitrário, enquadrando motores com potência máxima desenvolvida numa faixa de giros igual ou inferior a 3000 RPM, preferencialmente com pico de torque apresentado abaixo de 2000 RPM, e limite máximo operacional igual ou inferior a 4000 RPM como "baixa rotação", e com potência máxima desenvolvida acima das 3000 RPM como "alta rotação".

Acaba por chamar à atenção a atual geração de caminhonetes Ram, que desde a época em que usavam a marca Dodge são oferecidas com motor Cummins de 6 cilindros da série B, de baixa rotação por definição, ainda que o atual ISB6.7 entregue seus saudáveis 350hp a 3013 RPM. Também vale destacar que, em gerações mais antigas, era comum entre usuários ávidos por desenvolver mais potência que alterassem o sistema injetor para que o motor ficasse mais "girador". Há relatos do antigo B5.9 beirando 5000 RPM...


Outro caso bastante emblemático envolve o Toyota Bandeirante, que durante décadas foi equipado com motores fornecidos pela Mercedes-Benz, com destaque para o OM-324 de 3.4L com 78cv a 3000 RPM, posteriormente o OM-314 de 3.8L com 85cv a 2800 RPM e finalmente o OM-364 de 4.0L com 90cv a 2800 RPM, até que a partir de '94 estreou no mercado brasileiro o motor 14B de fabricação própria da Toyota, de 3.7L com 96cv a 3400 RPM, mas que acabou sendo rejeitado por alguns consumidores, que preferiam a disponibilidade do pico de torque a regimes ligeiramente mais baixos e vantagem em valores absolutos para o OM-364 (27mkgf a 1400 RPM contra 24,4mkgf a 2200 RPM).


Nos motores Diesel de alta rotação, normalmente, a relação peso-potência é favorecida, em detrimento do torque, como pode ser observado numa comparação entre o motor Kia JT de 3.0L e 85cv a 4000 RPM usado na Besta Grand e o já citado Mercedes-Benz OM-314, que além do Bandeirante foi usado no "Mercedinho" 608. Apesar da mesma potência absoluta, com vantagem para o Kia em valores específicos (cv/l), há uma grande diferença nos valores do torque e respectivas faixas de rotação, de 18,5mkgf a 2200 RPM para o Kia e 24mkgf a 1800 RPM para o Mercedes-Benz.
Mesmo em motores de alta rotação podem-se notar significativas diferenças, que podem ser influenciadas pela diferença entre os sistemas de injeção (indireta ou direta), ausência ou presença de
gerenciamento eletrônico e até pelos avanços na tecnologia do
turbocompressor, como pode ser observado tomando por referência o último modelo do Ford Escort e o Ford Focus de 2ª geração atualmente feito na Argentina. Enquanto o velho Escort podia ser encontrado no exterior com um motor 1.8L com turbo de geometria fixa, injeção indireta 100% mecânica e modestos 70cv a 4500 RPM e aproximados 14mkgf a 2500 RPM, o mesmo propulsor atualizado com injeção direta eletrônica do tipo common-rail, turbo de geometria variável, intercooler e 115cv a 3700 tem o torque de generosos 28mkgf entregue já a partir de 1900 RPM, característica mais próxima dos motores de baixa rotação.
E apesar de serem mais indicados para
veículos leves, alguns motores Diesel de alta rotação também são aplicados a utilitários como o antigo GMC 5-90 baseado no Isuzu NLR, equipado com motor Isuzu 4JG2 de 3.1L, injeção indireta, 83cv a 3400 RPM e torque de 19mkgf a 2300 RPM, ou o Agrale Furgovan 6000 que usava o motor MWM Sprint 4.07 TCA de 2.8L, com injeção direta, turbo e intercooler 132cv a 3200 RPM e um saudável torque de 34mkgf a 1800 RPM. Nesses casos, o peso do motor no mínimo 100kg mais leve que um de baixa rotação acaba contribuindo para um melhor balanceamento de peso entre os eixos, favorecendo a dirigibilidade mesmo quando o veículo encontra-se vazio, e tirando um peso morto que acaba reduzindo a capacidade de carga, favorecendo a
rentabilidade em operação comercial...
Na prática, tanto motores de alta rotação quanto de baixa rotação apresentam vantagens que devem ser ponderadas de acordo com a aplicação, visando conciliar a já conhecida economia do Diesel com um desempenho satisfatório.